sábado, 4 de setembro de 2010

Nossa opinião sobre o filme Nosso Lar


Fomos ao cinema ontem, dia 03 de setembro de 2010, dia da estréia, assistir ao filme Nosso Lar, em Porto Alegre, RS.


Era a sessão das 21hs40min e o cinema estava quase lotado, sobrando alguns poucos assentos.

Mal o filme começou e já sentimos arrepios bons pelo corpo. A música deu um toque mágico ao filme. Os efeitos especiais também passaram uma realidade incrível, nos transportando para a vida daquele interessante personagem, o André Luiz, que muitos conheciam apenas em imaginação, ao lerem o livro.


A história se desenrola bem e nos passa a problemática do André Luiz: levou uma vida baseada em alguns vícios e desvios, não foi bom o suficiente e se encontrou, após a morte do corpo, em uma zona inferior da vida espiritual. E, depois, arrependido e socorrido, acompanhamos o seu processo de entendimento, trabalho e reforma íntima, passando de médico orgulhoso e que se imaginava injustiçado a um servidor amoroso e dedicado ao amor e ao bem.


O filme não traz todos os detalhes do livro e nem reproduz todos os ricos diálogos que ele contém. Mas isso era de se esperar, pois o tempo de um filme é limitado e não permite dissecar um livro como o Nosso Lar. Mas a mensagem, o principal, foi passado: colhemos o que plantamos e somos responsáveis por nossos destinos. O caminho é o amor e a dedicação ao próximo e não o egoísmo e o orgulho.


Além disso, o filme traz situações não narradas no livro mas que devem ter ocorrido nos bastidores daquela história, o que surge como novidade para aqueles que leram o livro e esperavam ver um filme de uma história por demais já conhecida.


Vale a pena ver o filme. É edificante. Mesmo para quem não acredita em nada, aquela "versão" do filme serve para fazer pensar. Se o futuro é esse para todos nós, devemos nos tornar pessoas melhores, mais humanas, amáveis, caridosas e compreensivas. Se não é e a história é apenas uma "estória", uma ficção, pelo menos teremos nos tornado pessoas melhores no convívio com nossos semelhantes se decidirmos modificar nosso modo de ser.


Nós recomendamos o filme. E, para quem quiser conhecer melhor ainda a história, sugerimos a leitura do livro e seus diálogos esclarecedores, nas diversas perguntas que André Luiz fez quando chegou na colônia Nosso Lar e suas respostas, as quais não puderam ser todas retratadas no filme, em função do limite de tempo.


Para quem disse que os diálogos são muito solenes, parecendo artificiais, há que se lembrar que o filme está retratando uma história que se passou na década de 30 do século passado (1930), quando o modo de falar e escrever o português e os tratamentos sociais eram muito mais formais do que nos dias de hoje. Por isso, pensamos que o filme não poderia trazer os modos e costumes de nossa época se pretendia refletir o contexto da história contada no livro.


Certamente, iremos assistir ao filme de novo, pois foram momentos muito agradáveis.

"Nosso Lar" explica didaticamente o espiritismo


José Luiz Teixeira
De São Paulo (SP)

Estreou ontem o filme "Nosso Lar", baseado no livro homônimo de Chico Xavier.

É a história do médico André Luiz (interpretado pelo ator Renato Prieto) que, uma vez morto na Terra, ressuscita em um mundo espiritual.

Ali, naquele que, segundo o personagem, é o primeiro portal para onde vamos depois de bater as botas, ele aprende sobre o que é o espiritismo.

E relata sua experiência por intermédio de psicografia para Chico Xavier, que a transforma em um best-seller de mais de dois milhões de exemplares vendidos.

O filme deverá acompanhar o mesmo sucesso do livro, pois estima-se que o Brasil tenha cerca de quatro milhões de kardecistas - uma platéia garantida nas mais de quatrocentas salas em que será exibido.

O "Nosso Lar" é uma das muitas cidades espirituais que existiriam em um plano superior da Terra.

É retratada como uma Brasília futurista, com um palácio central e seus ministérios.

O governador, interpretado pelo ator Othon Bastos, lembra um pouco a figura do "Grande Irmão", do livro "1984".

Ele aparece em telões para todos os habitantes - onde quer que estejam - quando precisa fazer algum informe.

Seu caráter, entretanto, ao contrário do personagem de George Orwell, não é repressivo, mas educativo.

No entanto, o partido é único e a oposição fica do lado de fora das grandes muralhas que protegem aquele idílico lugar (seguramente o maior desejo de todos os governantes encarnados).

É o reino do bem, da purificação, um degrau da escada da evolução da alma.

Não há carros particulares e o sistema de transporte público realmente funciona (por intermédio de modernos ônibus voadores), usando energia eletromagnética.

Embora a população, vestindo túnicas brancas e ouvindo música clássica nos parques seja uma visão estereotipada da vida no paraíso, o filme retrata bem o que é descrito no livro.

Para os espíritas que já leram o texto psicografado por Chico Xavier não há muita novidade, a não ser a beleza das imagens e da trilha composta especialmente pelo músico americano Phillp Glass.

Na verdade, como o filme é bem didático, trata-se de uma grande oportunidade para aqueles que querem conhecer a doutrina espírita sem preconceitos.

José Luiz Teixeira é jornalista. Formado pela Faculdade Cásper Líbero, trabalhou em diversos órgãos de imprensa, entre os quais as rádios Gazeta, Tupi e BBC de Londres, e os jornais O Globo, Folha de S.Paulo e Folha da Tarde.

Fale com José Luiz Teixeira: jl.teixeira@terra.com.br

Opiniões expressas aqui são de exclusiva responsabilidade do autor e não necessariamente estão de acordo com os parâmetros editoriais de Terra Magazine.

Terra Magazine
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4659716-EI14381,00-Nosso+Lar+explica+didaticamente+o+espiritismo.html

Com orçamento recorde, 'Nosso Lar' chega aos cinemas

AE - Agência Estado

André Luiz abre os olhos. O hospital deu lugar a um ambiente escuro, molhado, sujo. Ele é assombrado. As dores provocadas pela doença no intestino ainda estão lá. A barriga sangra, a fome e a sede apertam. O médico, então, percebe: ele está morto. São assim as primeiras cenas de "Nosso Lar", do diretor e roteirista Wagner de Assis, megaprodução brasileira que estreia hoje em 435 cinemas nacionais, com 400 cópias. O recorde no País foi o lançamento de 692 unidades de "Eclipse", em julho deste ano.

Se não deu para quebrar essa marca, o longa-metragem, que mostra a trajetória de André Luiz no chamado plano espiritual, chega ostentando um outro número: orçamento de R$ 20 milhões é o maior da história do cinema brasileiro - antes dele, "Lula, o Filho do Brasil", que custou R$ 12 milhões, era o recordista.

Apesar de seu projeto ter nascido em 2005, a obra estreia justamente em meio a uma intensa onda de filmes com a temática espírita. O primeiro longa da safra a lançar luz sobre o tema, "Bezerra de Menezes - O Diário de um Espírito" (2008), atraiu 505 mil espectadores. Na sequência, "Chico Xavier, o Filme" (2010) alcançou um público de 3,4 milhões de pessoas. Fora da telona, a novela "Escrito nas Estrelas" e a série "A Cura", ambas da rede Globo, abordam com repercussão a vida após a morte e a reencarnação em suas narrativas.

"Nosso Lar" chega com um trunfo, que deve atrair ao menos os seguidores do espiritismo (cerca de 20 milhões de brasileiros). O mais famoso médium do País, Chico Xavier, empresta sua marca para o longa, inspirado no best-seller de mesmo nome, supostamente psicografado por ele em 1944. Emmanuel, suposto espírito-guia de Xavier, que seria o responsável por ditar o texto de André Luiz ao autor mineiro, é inclusive um dos personagens do filme. Diferentemente do que se viu em "Chico Xavier" - protagonizado por Ângelo Antônio e Nelson Xavier -, "Nosso Lar" tem como protagonista um ator desconhecido: Renato Prieto.

Para tornar mais interessante um suposto mundo pós-morte, os produtores procuraram a empresa canadense Intelligente Creatures, responsável pelos efeitos especiais do blockbuster "Watchmen", por exemplo. Mais de 350 imagens do filme têm inserções geradas por computador. As informações são do Jornal da Tarde.

http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,com-orcamento-recorde-nosso-lar-chega-aos-cinemas,604688,0.htm

Famosos comparecem à pré-estreia de "Nosso Lar"

Rafael Lemos

A pré-estreia do filme espírita 'Nosso Lar', de Wagner de Assis, reuniu na noite desta terça-feira cerca de 1 500 pessoas, incluindo o elenco e muitos artistas, em um shopping da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Um dos famosos mais ansiosos para assistir à obra - inspirada no livro de André Luís psicografado pelo médium Chico Xavier - era o ator Jayme Monjardim, intérprete do personagem Daniel na novela das seis 'Escrito nas Estrelas', que fez sucesso ao apostar na temática do espiritismo.

"Eu não conhecia o tema (espiritismo) até a preparação para a novela. Não sou espírita, mas absorvi muitas coisas. Aprendi, principalmente, a viver intensamente a vida e plantar sempre o bem", conta o ator, que se diz "bem resolvido" espiritualmente. Sobre o interesse do público brasileiro pelo tema espírita, comprovado com os sucessos televisivos de 'Escrito nas Estrelas' e da minissérie 'A Cura', Monjardim acredita que o motivo principal seja a curiosidade diante do desconhecido. "É um tema que mexe com imaginário das pessoas. Tudo que é desconhecido gera curiosidade. E o povo anda carente de amor, afeto. Quando um tema vem despertar esses sentimentos, é sempre bem-vindo", conclui.

A atriz Mariana Rios também fez questão de ser uma das primeiras a ver o filme. Espírita, ela leu 'Nosso Lar' ainda na adolescência e aprovou a versão para o cinema. "Li quando tinha 15 ou 16 anos. Depois disso, já li mais três vezes. Foi o segundo livro espírita com o qual tive contato. Antes, tinha lido 'Violetas na Janela' (romance espírita narrado pelo espírito "Patrícia" e psicografado pela médium Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho). Acho que todos deveriam assistir esse filme. Para as pessoas que não acreditam, há muitas respostas. É uma lição. Faz a gente repensar a vida e nossas atitudes", afirma.

O protagonista Renato Prieto, que vive o espírito André Luís, também aposta que o filme vai mexer profundamente com a maneira das pessoas encararem a vida. "Eu costumo dizer que é um filme que vai mudar a vida das pessoas. E vai mudar para melhor", resume o ator.

Já o ator Nicola Siri, que integra o elenco no papel de segundo marido da esposa de André Luís, estava empolgadíssimo com a qualidade técnica da produção. "Foi a primeira vez que vi o filme. Achei muito bom mesmo. Um filme de qualidade internacional. Um filmão. Com música de Phillip Glass e direção de fotografia de Ueli Steiger. Me senti em Hollywood. Não tinha noção de como tinha ficado maravilhoso. O público vai adorar", contou o italiano.

'Nosso Lar', que contou com um investimento de 20 milhões de reais, estreia nesta sexta-feira em mais de 400 salas de cinema em todo o país. O filme é baseado no livro de mesmo nome, publicado em 1944, que já vendeu mais de 2 milhões de exemplares e foi lido por ceca de 16 milhões de pessoas. A narrativa conta as experiências e aprendizados do espírito André Luís, autor de 16 livros psicografados por Chico Xavier, na comunidade Nosso Lar, uma cidade suspensa, localizada geograficamente sobre o Rio de Janeiro.

Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/famosos-comparecem-a-pre-estreia-de-nosso-lar

Igreja Católica e a comunicação com os "mortos": o livro do Arcebispo

29/07/2010

Recentemente foi lançado no mercado cultural um livro mediúnico trazendo as reflexões de um padre depois da morte, atribuído, justamente, ao Espírito Dom Helder Camara, bispo católico, arcebispo emérito de Olinda e Recife, desencarnado no dia 28 de agosto de 1999 em Recife, Pernambuco.

O livro psicografado pelo médium Carlos Pereira, da Sociedade Espírita Ermance Dufaux, de Belo Horizonte, causou muita surpresa no meio espírita e grande polêmica entre os católicos. O que causou mais espanto entre todos foi a participação de Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo, que durante nove anos foi secretário de Dom Helder Câmara, para a relação ecumênica com as igrejas cristãs e as outras religiões.

Marcelo Barros secretariou Dom Helder Câmara no período de 1966 a 1975 e tem 30 livros publicados. Ao prefaciar o livro Novas Utopias, do Espírito Dom Helder, reconhecendo a autenticidade do comunicante, pela originalidade de suas idéias e, também, pela linguagem, é como se a Igreja Católica viesse a público reconhecer o erro no qual incorreu muitas vezes, ao negar a veracidade do fenômeno da comunicação entre vivos e mortos, e desse ao livro de Carlos Pereira, toda a fé necessária como o Imprimatur do Vaticano.

É importante destacar, ainda, que os direitos autorais do livro foram divididos em partes iguais, na doação feita pelo médium, à Sociedade Espírita Ermance Dufaux e ao Instituto Dom Helder Câmara, de Recife, o que, aliás, foi aceito pela instituição católica, sem nenhum constrangimento.

No prefácio do livro aparece também o aval do filósofo e teólogo Inácio Strieder e a opinião favorável da historiadora e pesquisadora Jordana Gonçalves Leão, ambos ligados a Igreja Católica. Conforme eles mesmos disseram, essa obra talvez não seja uma produção direcionada aos espíritas, que jáconvivem com o fenômeno da comunicação, desde a codificação do Espiritismo; mas, para uma grandiosa parcela da população dentro da militância católica, que é chamada a conhecer a verdade espiritual, porque "os tempos são chegados"; estes ensinamentos pertencem à natureza e, conseqüentemente, a todos os filhos de Deus.

A verdade espiritual não é propriedade dos espíritas ou de outros que professam estes ensinamentos e, talvez, porque, tenha chegado o momento da Igreja Católica admitir, publicamente, a existência espiritual, a vida depois da morte e a comunicação entre os dois mundos. Na entrevista com Dom Helder Câmara, realizada pelos editores, o Espírito comunicante respondeu as seguintes perguntas sobre a vida espiritual:


Dom Helder, mesmo na vida espiritual, o senhor se sente um padre?
Não poderia deixar de me sentir padre, porque minha alma, mesmo antes de voltar, já se sentia padre. Ao deixar a existência no corpo físico, continuo como padre porque penso e ajo como padre. Minha convicção à Igreja Católica permanece a mesma, ampliada, é claro, com os ensinamentos que aqui recebo, mas continuo firme junto aos meus irmãos de Clero a contribuir, naquilo que me seja possível, para o bem da humanidade.

Do outro lado da vida o senhor tem alguma facilidade a mais para realizar seu trabalho e exprimir seu pensamento, ou ainda encontra muitas barreiras com o preconceito religioso?
Encontramos muitas barreiras. As pessoas que estão do lado de cá reproduzem o que existe na Terra. Os mesmos agrupamentos que se formam aqui se reproduzem na Terra. Nós temos as mesmas dificuldades de relacionamento, porque os pensamentos continuam firmados, cristalizados em determinados pontos que não levam a nada.

Mas, a grande diferença é que por estarmos com a vestimenta do espírito, tendo uma consciência mais ampliada das coisas podemos dirigir os nossos pensamentos de outra maneira e assim influenciar aqueles que estão na Terra e que vibram na mesma sintonia.

Como o senhor está auxiliando nossa sociedade na condição dedesencarnado?
Do mesmo jeito. Nós temos as mesmas preocupações com aqueles que passam fome, que estão nos hospitais, que são injustiçados pelo sistema que subtrai liberdades, enriquece a poucos e colocam na pobreza e na miséria muitos; todos aqueles desvalidos pela sorte. Nós juntamos a todos que pensam semelhantemente a nós, em tarefas enobrecedoras, tentando colaborar para o melhoramento da humanidade.

Como é sua rotina de trabalho?
A minha rotina de trabalho é, mais ou menos, a mesma. Levanto-me, porque aqui também se descansa um pouco, e vamos desenvolver atividades para as quais nos colocamos à disposição. Há grupos que trabalham e que são organizados para o meio católico, para aqueles que precisam de alguma colaboração. Dividimo-nos em grupos e me enquadro em algumas atividades que faço com muito prazer.

Qual foi a sua maior tristeza depois de desencarnado? E qual foi a sua maior alegria?
Eu já tinha a convicção de que estaria no seio do Senhor e que não deixaria de existir.
Poder reencontrar os amigos, os parentes, aqueles aos quais devotamos o máximo de nosso apreço e consideração e continuar a trabalhar, é uma grande alegria. A alegria do trabalho para o Nosso Senhor Jesus Cristo.

O senhor, depois de desencarnado, tem estado com freqüência nos Centros Espíritas?
Não. Os lugares mais comuns que visito no plano físico são os hospitais; as casas de saúde; são lugares onde o sofrimento humano se faz presente. Naturalmente vou à igreja, a conventos, a seminários, reencontro com amigos, principalmente em sonhos, mas minha permanência mais freqüente não é na casa espírita.

O senhor já era reencarnacionista antes de morrer?
Nunca fui reencarnacionista, diga-se de passagem. Não tenho sobre este ponto um trabalho mais desenvolvido porque esse é um assunto delicado, tanto é que o pontuei bem pouco no livro. O que posso dizer é que Deus age conforme a sua sabedoria sobre as nossas vidas e que o nosso grande objetivo é buscarmos a felicidade mediante a prática do amor. Se for preciso voltar a ter novas experiências, isso será um processo natural.

Qual é o seu objetivo em escrever mediunicamente?
Mudar, ou pelo menos contribuir para mudar, a visão que as pessoas têm da vida, para que elas percebam que continuamos a existir e que essa nova visão possa mudar profundamente a nossa maneira de viver.

Qual foi a sensação com a experiência da escrita mediúnica?
Minha tentativa de adaptação a essa nova forma de escrever foi muito interessante, porque, de início, não sabia exatamente como me adaptar ao médium para poder escrever. É necessário que haja uma aproximação muito grande entre o pensamento que nós temos com o pensamento do médium. É esse o grande problema de todos nós porque o médium precisa expressar aquilo que estamos intuindo a ele. No início foi difícil, mas aos poucos começamos a criar uma mesma forma de expressão e de pensamento, aí as coisas melhoraram. Outros (médiuns) pelos quais tento me comunicar enfrentam problemas semelhantes.

Foi uma surpresa saber que poderia se comunicar pela escritamediúnica?
Não. Porque eu já sabia que muitas pessoas portadoras da mediunidade faziam isso. Eu apenas não me especializei, não procurei mais detalhes, deixei isso para depois, quando houvesse tempo e oportunidade.

Imaginamos que haja outros padres que também queiram escrever mediunicamente, relatarem suas impressões da vida espiritual. Por que Dom Helder é quem está escrevendo?
Porque eu pedi. Via-me com a necessidade de expressar aos meus irmãos da Terra que a vida continua e que não paramos simplesmente quando nos colocam dentro de um caixão e nos dizem "acabou-se". Eu já pensava que continuaria a existir, sabia que haveria algo depois da vida física. Falei isso muitas vezes. Então, senti a necessidade de me expressar por um médium quando estivesse em condições e me fossem dadas as possibilidades. É isto que eu estou fazendo.

Outros padres, então, querem escrever mediunicamente em nosso País?
Sim. E não poucos. São muitos aqueles que querem usar a pena mediúnica para poder expressar a sobrevivência após a vida física. Não o fazem por puro preconceito de serem ridicularizados, de não serem aceitos, e resguardam as suas sensibilidades espirituais para não serem colocados numa situação de desconforto. Muitos padres, cardeais até, sentem a proteção espiritual nas suas reflexões, nas suas prédicas, que acreditam ser o Espírito Santo, que na verdade são os irmãos que têm com eles algum tipo de apreço e colaboram nas suas atividades.

Como o senhor se sentiu em interação com o médium Carlos Pereira?
Muito à vontade, pois havia afinidade, e porque ele se colocou à disposição para o trabalho. No princípio foi difícil juntar-me a ele por conta de seus interesses e de seu trabalho. Quando acertamos a forma de atuar, foi muito fácil, até porque, num outro momento, ele começou a pesquisar sobre a minha última vida física. Então ficou mais fácil transmitir-lhe as informações que fizeram o livro.

O senhor acredita que a Igreja Católica irá aceitar suas palavras pela mediunidade?
Não tenho esta pretensão. Sabemos que tudo vai evoluir e que um dia, inevitavelmente, todos aceitarão a imortalidade com naturalidade, mas é demais imaginar que um livro possa revolucionar o pensamento da nossa Igreja. Acho que teremos críticas, veementes até, mas outros mais sensíveis admitirão as comunicações.
Este é o nosso propósito.

É verdade que o senhor já tinha alguns pensamentos espíritas quando na vida física?
Eu não diria espírita; diria espiritualista, pois a nossa Igreja, por si só, já prega a sobrevivência após a morte. Logo, fazermos contato com o plano físico depois da morte seria uma conseqüência natural. Pensamentos espíritas não eram, porque não sou espírita. Sem nenhum tipo de constrangimento em ter negado alguns pensamentos espíritas, digo que cheguei a ter, de vez em quando, experiências íntimas espirituais.

Igreja - Há as mesmas hierarquias no mundo espiritual?
Não exatamente, mas nós reconhecemos os nossos irmãos que tiveram responsabilidades maiores e que notoriamente tem um grau evolutivo moral muito grande. Seres do lado de cá se reconhecem rapidamente pela sua hombridade, pela sua lucidez, pela sua moralidade.

Não quero dizer que na Terra isto não ocorra, mas do lado de cá da vida isto é tudo mais transparente; nós captamos a realidade com mais intensidade. Autoridade aqui não se faz somente com um cargo transitório que se teve na vida terrena, mas, sobretudo, pelo avanço moral.

Qual seu pensamento sobre o papado na atualidade?
Muito controverso esse assunto. Estar na cadeira de Pedro, representando o pensamento maior de Nosso Senhor Jesus Cristo, é uma responsabilidade enorme para qualquer ser humano. Então fica muito fácil, para nós que estamos de fora, atribuirmos para quem está ali sentado, algum tipo de consideração. Não é fácil. Quem está ali tem inúmeras responsabilidades, não apenas materiais, mas descobri que as espirituais ainda em maior grau. Eu posso ter uma visão ideológica de como poderia ser a organização da Igreja; defendi isso durante minha vida.

Mas tenho que admitir, embora acredite nesta visão ideal da Santa Igreja, que as transformações pelas quais devemos passar merecem cuidado, porque não podemos dar sobressaltos na evolução. Queira Deus que o atual Papa Ratzinger (Bento XVI) possa ter a lucidez necessária para poder conduzir a Igreja ao destino que ela merece.

O senhor teria alguma sugestão a fazer para que a Igreja cumpra seu papel?
Não preciso dizer mais nada. O que disse em vida física, reforço. Quero apenas dizer que quando estamos do lado de cá da vida, possuímos uma visão mais ampliada das coisas. Determinados posicionamentos que tomamos, podem não estar em seu melhor momento de implantação, principalmente por uma conjuntura de fatores que daqui percebemos. Isto não quer dizer que não devamos ter como referência os nossos principais ideais e, sempre que possível, colocá-los em prática.

Espíritas no futuro?
Não tenho a menor dúvida. Não pertencem estes ensinamentos a nossa Igreja, ou de outros que professam estes ensinamentos espirituais. Portanto, mais cedo ou mais tarde, a nossa Igreja terá que admitir a existência espiritual, a vida depois da morte, a comunicação entre os dois mundos e todos os outros princípios que naturalmente decorrem da vida espiritual.

Quais são os nomes mais conhecidos da Igreja que estão cooperando com o progresso do Brasil no mundo espiritual?
Enumerá-los seria uma injustiça, pois há base em todas as localidades. Então, dizer um nome ou outro seria uma referência pontual porque há muitos, que são poucos conhecidos, mas que desenvolvem do lado de cá da vida um trabalho fenomenal e nós nos engajamos nestas iniciativas de amor ao próximo.

Amor - Que mensagem o senhor daria especificamente aos católicos agora, depois da morte?
Que amem, amem muito, porque somente através do amor vai ser possível trazer um pouco mais de tranqüilidade à alma. Se nós não tentarmos amar do fundo dos nossos corações, tudo se transformará numa angústia profunda. O amor, conforme nos ensinou o Nosso Senhor Jesus Cristo, é a grande mola salvadora da humanidade.

Que mensagem o senhor deixaria para nós espíritas?
Que amem também, porque não há divisão entre espíritas e católicos ou qualquer outra crença no seio do Senhor. Não há. Essa divisão é feita por nós, não pelo Criador. São aceitáveis porque demonstram diferenças de pontos de vista, no entanto, a convergência é única, aqui simbolizada pela prática do amor, pois devemos unir os nossos esforços.

Que mensagem o senhor deixaria para os religiosos de uma maneira geral?
Que amem. Não há outra mensagem senão a mensagem do amor. Ela é a única e principal mensagem que se pode deixar".

Livro: Novas Utopias
Autor: Dom Helder Câmara (espírito)
Médium: Carlos Pereira
Editora: Dufaux
Site: http://www.editoradufaux.com.br/



Dom Helder Camara, arcebispo de Recife e Olinda, retorna através do médium Carlos Pereira para continuar sua missão. Novas Utopias é um livro instigante porque traz ao debate a temática da imortalidade do ser, da dimensão transcendental e da relação intermundos, a espiritual e a física, independentemente da crença religiosa.

Camara, Dom Helder (Espírito)
Pereira, Carlos (Médium)
290 PÁGINAS ISBN – 978-85-98080-46-8

http://www.espiritualidades.com.br/Not_2010/2010_07_29_novas_utopias_livro_dom_helder.htm

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Pastor é preso após chamar funcionária da TAM de "pretinha folgada"

(31.08.10)

Um pastor evangélico foi preso anteontem (29) , no Aeroporto Internacional de Belém, acusado de injúria racial. Petrônio Alves Silva, de 40 anos, tentava embarcar para a Brasília, quando teria chamado a funcionária do check in da Tam, Ana Brenda da Costa Ribeiro, de 26 anos, de "pretinha folgada". 

Segundo o delegado Robério Pinheiro, da Polícia Federal, o acusado teria apresentado documento sem foto no balcão da companhia, além de se recusar a pagar pelo excesso de bagagem.

Garante o delegado que "segundo relatos, o pastor já chegou com impropério ao balcão da empresa. E ainda chamou a moça de pretinha folgada. O povo chega aqui no Pará e acha que somos tolerantes com esse tipo de conduta".

Após prestar depoimento por mais de uma hora, Petrônio foi levado a uma cela especial, por possuir curso superior. Ainda no domingo, o advogado do acusado entrou com o pedido de habeas corpus. O pastor foi solto e vai responder em liberdade.

Se condenado, pode cumprir pena de até 3 anos de reclusão. Ele nega as acusações. A Tam preferiu não se pronunciar sobre o caso. (Com informações de O Globo)

(31.08.10)Um pastor evangélico foi preso anteontem (29) , no Aeroporto Internacional de Belém, acusado de injúria racial. Petrônio Alves Silva, de 40 anos, tentava embarcar para a Brasília, quando teria chamado a funcionária do check in da Tam, Ana Brenda da Costa Ribeiro, de 26 anos, de "pretinha folgada".

Segundo o delegado Robério Pinheiro, da Polícia Federal, o acusado teria apresentado documento sem foto no balcão da companhia, além de se recusar a pagar pelo excesso de bagagem.

Garante o delegado que "segundo relatos, o pastor já chegou com impropério ao balcão da empresa. E ainda chamou a moça de pretinha folgada. O povo chega aqui no Pará e acha que somos tolerantes com esse tipo de conduta".

Após prestar depoimento por mais de uma hora, Petrônio foi levado a uma cela especial, por possuir curso superior. Ainda no domingo, o advogado do acusado entrou com o pedido de habeas corpus. O pastor foi solto e vai responder em liberdade.

Se condenado, pode cumprir pena de até 3 anos de reclusão. Ele nega as acusações. A Tam preferiu não se pronunciar sobre o caso. (Com informações de O Globo)

http://www.espacovital.com.br/noticia_ler.php?id=20415

domingo, 29 de agosto de 2010

Cadastro Nacional de Adoção tem 26 mil pretendentes


O Cadastro Nacional de Adoção registrou, até o início de março, 26.735 pretendentes à adoção e 4.578 crianças e adolescentes aptas a serem adotadas. Os dados mostram que entre os pretendentes, 39,2% quer crianças brancas e 78,65% quer crianças com idades de até três anos.

De acordo com o Conselho Nacional de Justiça, 85,72% das pessoas candidatas a adotar deseja apenas uma criança e outros 13,40% dos pretendentes disseram querer adotar duas crianças. O cadastro tem o objetivo de agilizar os processos de adoção por meio do mapeamento de informações unificadas.

Por outro lado, do total de crianças e adolescentes aptas à adoção, 35,21% delas são brancas e 71,89% deles possuem irmãos, mas nem todos têm esses irmãos também cadastrados no CNA. As estatísticas ainda revelam que 45,76% das crianças cadastradas são pardas, 17,85% são negras, 0,76% são indígenas e 0,42% são da raça amarela.

O estado de São Paulo lidera o ranking do CNA com 7.192 pretendentes cadastrados para 1.414 crianças, seguido do Rio Grande do Sul, com 4.319 pretendentes para 798 crianças e em terceiro lugar vem o Paraná com 3.694 pretendentes para 482 crianças aptas a serem adotadas. Em quarto lugar, aparece Minas Gerais, com 2.920 pretendentes para 370 crianças cadastradas.

Desde que foi lançado em 29 de abril de 2008 pelo CNJ, o CNA já contribuiu para que 102 crianças conseguissem uma casa. Esse número é pequeno porque nem sempre os juízes das Varas da Infância e Adolescência dão baixa no cadastro, segundo os gestores do sistema. A nova Lei Nacional de Adoção, aprovada pelo Senado Federal em julho de 2009 prevê o pagamento de multas de até R$ 3 mil para os tribunais que não garantirem a operacionalização e atualização do Cadastro Nacional de Adoção. Com informações da Assessoria de Imprensa do Conselho Nacional de Justiça.



Cadastro Nacional de Adoção

Adoção: como adotar crianças e adolescentes





Regras atuais para a adoção no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), com as alterações da Lei nº 12.010/2009

Requisitos:

- Os adotantes (as pessoas que irão adotar, que se tornarão pais) devem ser maiores de 18 anos;
 
- Solteiros, separados e divorciados também podem adotar, devendo ser maiores de 18 anos;

- O adotante ou adotantes devem ser 16 (dezesseis) anos mais velhos do que o adotado (a criança ou adolescente que será adotada);

- Não existe previsão legal de adoção por casais homossexuais, mas muitos destes casais têm ingressado na Justiça e conseguido o acolhimento da pretensão de registro de adotados em seus nomes;

- É necessário a habilitação para a adoção e inscrição dos pretendentes no Cadastro Nacional de Adoção, que agiliza o processo, uma vez que é um cadastro que engloba todo o País. Para a habilitação é exigida a apresentação de uma petição inicial (através de advogado ou da defensoria pública) acompanhada dos seguintes dados e documentos:

  • I - qualificação completa; 
  • II - dados familiares;  
  • III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou casamento, ou declaração relativa ao período de união estável;  
  • IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas;  
  • V - comprovante de renda e domicílio;  
  • VI - atestados de sanidade física e mental;  
  • VII - certidão de antecedentes criminais;  
  • VIII - certidão negativa de distribuição cível. 

- O juiz encaminhará o pedido ao Ministério Público para que este opine sobre o pedido.

- "Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que conterá subsídios que permitam aferir a capacidade e o preparo dos postulantes para o exercício de uma paternidade ou maternidade responsável, à luz dos requisitos e princípios desta Lei." (Art. 197-C da Lei 8069)

- "É obrigatória a participação dos postulantes em programa oferecido pela Justiça da Infância e da Juventude preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar, que inclua preparação psicológica, orientação e estímulo à adoção inter-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos." (§ 1º do Art. 197-C da Lei 8069)    

- Sempre que possível e recomendável, a etapa obrigatória da preparação referida no § 1o deste artigo incluirá o contato com crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar ou institucional em condições de serem adotados, a ser realizado sob a orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, com o apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de acolhimento familiar ou institucional e pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar. (§ 2º) 

- "Certificada nos autos a conclusão da participação no programa referido no art. 197-C desta Lei, a autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, decidirá acerca das diligências requeridas pelo Ministério Público e determinará a juntada do estudo psicossocial, designando, conforme o caso, audiência de instrução e julgamento. (Art. 197-D)

- "Caso não sejam requeridas diligências, ou sendo essas indeferidas, a autoridade judiciária determinará a juntada do estudo psicossocial, abrindo a seguir vista dos autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo. (parágrafo único do art. 197-D)

- "Deferida a habilitação, o postulante será inscrito nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei, sendo a sua convocação para a adoção feita de acordo com ordem cronológica de habilitação e conforme a disponibilidade de crianças ou adolescentes adotáveis." (art. 197-E)

- O Cadastro Nacional de Adoção tornará mais célere a localização das crianças com as características desejada pelos adotantes, que poderá ser feita em outras cidades e estados.

Há possibilidade de adoção sem se aguardar a ordem cronológica de habilitação e, ainda, é possível pedir a guarda provisória ou definitiva de crianças ou adolescentes:


Comentaremos em breve, continuando o "post".


A menina que sorri: como a adoção salvou Tatiane

Repórter e fotógrafo reencontram menina retratada em reportagem depois de 18 anos

Ricardo Stefanelli | ricardo.stefanelli@zerohora.com.br

Ao ritmo do desembarque da edição dominical de Zero Hora nos pontos de venda ou nos lares, naquele entardecer de sábado, há duas semanas, pingavam mensagens na caixa de e-mails da Redação. Fazia frio no Estado, e milhares cumpriam o ritual de se agarrar ao jornal ainda quente pelas rotativas, como costuma fazer boa parte dos gaúchos nos sábados. 

Pelo celular, também conectado à internet, era possível monitorar a chegada de pistas a conta-gotas sobre a menina sorridente destacada na página 2, retratada em reportagem de 1992, sobre abrigos de crianças. A maioria das mensagens era de esperança, numa corrente informal durante todo o fim de semana, pois muitos temiam pela sorte da menina da Febem.

Vídeo mostra a trajetória da menina que sorri:
 

Às 6h de segunda-feira, se iniciou o ritual de mensagens, numa procissão de sugestões, conselhos e orações até que, à noite, enquanto a Redação corria para fechar a edição do dia seguinte, o canto direito da tela piscou sob um título diferente de todos os demais:

– Você me achou.

O elo começava a se fechar.

Uma rede havia se formado, interligando funcionários da antiga Febem, boa parte deles atuando hoje na Fundação de Proteção Especial, a porção da instituição para abrigar crianças sem infrações. Dedicados como costumam ser com seus filhos emprestados, alguns identificaram as crianças da foto, em especial a sorridente Tatiane, de tiara na cabeça. Por um deles, a garota soube que, àquela altura, milhares de gaúchos estavam à procura de sua história. Um dos interessados era o leitor Marcel Esquivel Hoppe, hoje desembargador da 1ª Câmara Criminal de Porto Alegre, que em 1992 como juiz da Infância e da Juventude assanhou ZH a estimular as adoções.

– Passados 18 anos, acho que aquelas ações nos fizeram homens melhores – comentou o magistrado, um pioneiro na seara da infância e da juventude do Rio Grande.

Convoquei na manhã seguinte Mauro Vieira, o mesmo fotógrafo daquela primavera de 1992, quando conhecemos a menina que, enroscada em nossas pernas, tentava impedir a conversa com os monitores da casa ou com as demais crianças. Na semana passada, foi possível entender um pouco mais daquela doçura e carência: havia quatro semanas que a garota recolhida à Febem não recebia mais a visita semanal da mãe – e ninguém tinha coragem para explicar à criança o que é a morte.

A mensagem “Você me achou” não recebeu resposta imediata. Uma vírgula fora do lugar ou um verbo inadequado poderiam assustar. Era recomendável o contato pessoal, em Belém Novo, numa lotérica, como o recado da noite anterior sugeria. Uma conversa via correio eletrônico era fria demais para um contato adiado por quase duas décadas.

No centro do bairro rural, a porção mais interiorana da capital do Estado, surgiu uma lotérica. Na pequena loja forrada por cartões por todas as paredes foi possível ouvir, ao entrar, o diálogo entre uma atendente e um apostador no guichê.

– É tu naquela reportagem? – perguntava o homem em busca da sorte grande.

Identificamos o mesmo sorriso, os mesmos cabelos, agora sem a tiara e bem alinhados.

– Tu és Tatiane.

O sim veio com a cabeça. Dezoito anos depois, Tatiane voltava a nos abraçar e, como da outra vez, a nos descompor. Pelo reencontro, pela cara boa da menina transformada em mulher, pela mensagem da noite anterior que, abaixo do título, desanuviara o mau tempo:

“É impressionante se lembrar de mim depois de tanto tempo. Espero poder contar um pouco de minha trajetória, mas posso adiantar que o simples fato de eu ter me tornado a pessoa que sou hoje vale todo o resto”.

Conforme a história emergia, já na casa da jovem mulher, um duplo sentimento tomava conta da sala.

Tristeza pela trajetória dolorida. E serenidade emitida pela força de Rosemari, a professora estadual que resgatou a menina da Febem aos nove anos. Rose, docente enérgica e mãe bondosa, desde as primeiras aulas na escola estadual do bairro se impressionara com a história da menina que sorri. Rose sabia como havia sido a relação da garota com o pai, que ela perdera a mãe e, antes de chegar à Febem, passara seis meses hospitalizada. Uma atrofia dos joelhos foi agravada por passar boa parte dos dias sobre a cama, com a companhia da TV, no hotel de quartos escuros onde vivia, no centro da Capital.

– Eu gostava muito da novela Vamp – recorda-se.

Aos fins de tarde, Claudia Ohana e Nei Latorraca, os vampiros, eram os melhores parceiros da garota. Com afazeres no próprio hotel, a mãe biológica não tinha tempo para brincar. O pai, servidor público aposentado, pouco se fazia presente.

Na casa de Rose e Renato Faleiro, ex-funcionário de uma empresa avícola, a menina encontrou o sossego psicológico, pais especiais e três irmãos, filhos naturais do casal que a fazia renascer. A 3 de setembro de 1993, ao celebrar o primeiro aniversário em família, a garota deixou para trás o sobrenome Klagenberg de Mello:

– Este é o dia em que renasci – descreveu para o fotógrafo de ZH a festa de seus 10 anos.

Naquela data, já demonstrava todo o afeto aos carinhos sem fim dos novos pais, das duas irmãs e em especial do irmão três anos mais novo, Igor. Muito apegada ao garoto, seria submetida a um novo teste de resistência, 11 anos depois: o irmão com quem mais se identificara, sempre ao seu lado nas brincadeiras, adoeceu e morreu 21 dias depois do diagnóstico de leucemia. A mulher amadurecida a fórceps em hotéis lúgubres e lares da Febem precisava ajudar a recompor uma família de alma destroçada.

Foi quando Tatiane se interessou em pesquisar as origens. Apesar do pacto familiar firmado havia uma década para apagar o passado, chegara a hora de descobrir de onde vinha, como chegara ali. E por quê. O primeiro passo seria voltar ao hotel do centro da Capital onde nasceu. Precisava conversar com os que a conheceram bebê e viram sua mãe e pai brigarem. Necessitava recolher vestígios daqueles anos, mas a proprietária do local, agora uma senhora de idade, tratou de desidratar a esperança:

– Passa tanta gente por aqui, minha filha.

Tatiane era só mais uma.

À Justiça, requereu seu prontuário de adoção e soube, dias depois, que se tratava de um dos maiores calhamaços da 2ª Vara de Família e Sucessões, pois a insistência do pai em manter o poder familiar encorpara o processo a centenas de páginas. Os funcionários do Fórum se sentiam obrigados a fornecer a papelada, mas tentaram demovê-la, para poupá-la.

Obstinada pelo passado, Tatiane instalou-se no Fórum de modo a decorar linha por linha. Parou em dois capítulos especiais da história. O da trajetória da mãe, Maria, morta em outubro de 1992, vítima de enfisema pulmonar. Ligou para o telefone do Jardim da Paz, mas o não pagamento de aluguel provocara o recolhimento dos ossos. Nem havia onde depositar flores.

– Ficou a imagem de uma mulher doce, mas não lembro do rosto dela.

O segundo capítulo no qual ela estacionou os olhos falava do pai. Apesar dos relatos, queria perdoá-lo. Saiu em busca dele, mas encontrou-o no jazigo 342.349 do bloco 4 do Cemitério João XXIII e, pela lápide, soube que o homem morrera havia um mês.

Pela internet, procurou os filhos do pai biológico, cruzando nomes, sobrenomes, datas e locais de nascimento do pouco que sabia. Descobriu ter quatro meios-irmãos. Uma é falecida. Com os outros, conversa esporadicamente, quando ela telefona. Na linhagem materna, só localizou uma prima e uma tia, mas sentiu no ar uma preocupação por herança que a fez deixar este lado da família biológica para trás.

Depois de tudo saber, renasceu pela terceira vez, avalia hoje. Mais forte e liberta dos traumas, emancipação que nem as psicólogas conseguiram em quatro anos de sessões. Saiu da imersão ao passado mais convicta de que era filha de Rose e Renato, irmã de Ingrid, Sarah e do falecido Igor, cuja foto reluz na parede da boa residência de Belém Novo, três casas ao lado de onde construiu a sua, agora com o marido, o vigilante Gerson Lima, com quem se casou em outubro de 2006.

Para a cerimônia, os tios da Febem foram convidados. O servidor público Hélio Rafael Ortiz, a quem Tatiane chamava de “mãe” em seus tempos de casa-lar, esteve na janta de comemoração. Já com os primeiros cabelos brancos ainda trazia no rosto traços do jovem afetuoso de 22 anos enroscado pelas cinco crianças da foto publicada em novembro de 1992 à página 42 de Zero Hora.

Às vésperas de completar 25 anos, na próxima sexta-feira, Tatiane esboça planos para o futuro. Ela e o marido sonham com um filho.

– Família é tudo – ela diz.

Como ninguém, ela pode dizer isso.



ZERO HORA do dia 29 de agosto de 2010 (domingo)

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