terça-feira, 31 de agosto de 2010

Pastor é preso após chamar funcionária da TAM de "pretinha folgada"

(31.08.10)

Um pastor evangélico foi preso anteontem (29) , no Aeroporto Internacional de Belém, acusado de injúria racial. Petrônio Alves Silva, de 40 anos, tentava embarcar para a Brasília, quando teria chamado a funcionária do check in da Tam, Ana Brenda da Costa Ribeiro, de 26 anos, de "pretinha folgada". 

Segundo o delegado Robério Pinheiro, da Polícia Federal, o acusado teria apresentado documento sem foto no balcão da companhia, além de se recusar a pagar pelo excesso de bagagem.

Garante o delegado que "segundo relatos, o pastor já chegou com impropério ao balcão da empresa. E ainda chamou a moça de pretinha folgada. O povo chega aqui no Pará e acha que somos tolerantes com esse tipo de conduta".

Após prestar depoimento por mais de uma hora, Petrônio foi levado a uma cela especial, por possuir curso superior. Ainda no domingo, o advogado do acusado entrou com o pedido de habeas corpus. O pastor foi solto e vai responder em liberdade.

Se condenado, pode cumprir pena de até 3 anos de reclusão. Ele nega as acusações. A Tam preferiu não se pronunciar sobre o caso. (Com informações de O Globo)

(31.08.10)Um pastor evangélico foi preso anteontem (29) , no Aeroporto Internacional de Belém, acusado de injúria racial. Petrônio Alves Silva, de 40 anos, tentava embarcar para a Brasília, quando teria chamado a funcionária do check in da Tam, Ana Brenda da Costa Ribeiro, de 26 anos, de "pretinha folgada".

Segundo o delegado Robério Pinheiro, da Polícia Federal, o acusado teria apresentado documento sem foto no balcão da companhia, além de se recusar a pagar pelo excesso de bagagem.

Garante o delegado que "segundo relatos, o pastor já chegou com impropério ao balcão da empresa. E ainda chamou a moça de pretinha folgada. O povo chega aqui no Pará e acha que somos tolerantes com esse tipo de conduta".

Após prestar depoimento por mais de uma hora, Petrônio foi levado a uma cela especial, por possuir curso superior. Ainda no domingo, o advogado do acusado entrou com o pedido de habeas corpus. O pastor foi solto e vai responder em liberdade.

Se condenado, pode cumprir pena de até 3 anos de reclusão. Ele nega as acusações. A Tam preferiu não se pronunciar sobre o caso. (Com informações de O Globo)

http://www.espacovital.com.br/noticia_ler.php?id=20415

domingo, 29 de agosto de 2010

Cadastro Nacional de Adoção tem 26 mil pretendentes


O Cadastro Nacional de Adoção registrou, até o início de março, 26.735 pretendentes à adoção e 4.578 crianças e adolescentes aptas a serem adotadas. Os dados mostram que entre os pretendentes, 39,2% quer crianças brancas e 78,65% quer crianças com idades de até três anos.

De acordo com o Conselho Nacional de Justiça, 85,72% das pessoas candidatas a adotar deseja apenas uma criança e outros 13,40% dos pretendentes disseram querer adotar duas crianças. O cadastro tem o objetivo de agilizar os processos de adoção por meio do mapeamento de informações unificadas.

Por outro lado, do total de crianças e adolescentes aptas à adoção, 35,21% delas são brancas e 71,89% deles possuem irmãos, mas nem todos têm esses irmãos também cadastrados no CNA. As estatísticas ainda revelam que 45,76% das crianças cadastradas são pardas, 17,85% são negras, 0,76% são indígenas e 0,42% são da raça amarela.

O estado de São Paulo lidera o ranking do CNA com 7.192 pretendentes cadastrados para 1.414 crianças, seguido do Rio Grande do Sul, com 4.319 pretendentes para 798 crianças e em terceiro lugar vem o Paraná com 3.694 pretendentes para 482 crianças aptas a serem adotadas. Em quarto lugar, aparece Minas Gerais, com 2.920 pretendentes para 370 crianças cadastradas.

Desde que foi lançado em 29 de abril de 2008 pelo CNJ, o CNA já contribuiu para que 102 crianças conseguissem uma casa. Esse número é pequeno porque nem sempre os juízes das Varas da Infância e Adolescência dão baixa no cadastro, segundo os gestores do sistema. A nova Lei Nacional de Adoção, aprovada pelo Senado Federal em julho de 2009 prevê o pagamento de multas de até R$ 3 mil para os tribunais que não garantirem a operacionalização e atualização do Cadastro Nacional de Adoção. Com informações da Assessoria de Imprensa do Conselho Nacional de Justiça.



Cadastro Nacional de Adoção

Adoção: como adotar crianças e adolescentes





Regras atuais para a adoção no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), com as alterações da Lei nº 12.010/2009

Requisitos:

- Os adotantes (as pessoas que irão adotar, que se tornarão pais) devem ser maiores de 18 anos;
 
- Solteiros, separados e divorciados também podem adotar, devendo ser maiores de 18 anos;

- O adotante ou adotantes devem ser 16 (dezesseis) anos mais velhos do que o adotado (a criança ou adolescente que será adotada);

- Não existe previsão legal de adoção por casais homossexuais, mas muitos destes casais têm ingressado na Justiça e conseguido o acolhimento da pretensão de registro de adotados em seus nomes;

- É necessário a habilitação para a adoção e inscrição dos pretendentes no Cadastro Nacional de Adoção, que agiliza o processo, uma vez que é um cadastro que engloba todo o País. Para a habilitação é exigida a apresentação de uma petição inicial (através de advogado ou da defensoria pública) acompanhada dos seguintes dados e documentos:

  • I - qualificação completa; 
  • II - dados familiares;  
  • III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou casamento, ou declaração relativa ao período de união estável;  
  • IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas;  
  • V - comprovante de renda e domicílio;  
  • VI - atestados de sanidade física e mental;  
  • VII - certidão de antecedentes criminais;  
  • VIII - certidão negativa de distribuição cível. 

- O juiz encaminhará o pedido ao Ministério Público para que este opine sobre o pedido.

- "Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que conterá subsídios que permitam aferir a capacidade e o preparo dos postulantes para o exercício de uma paternidade ou maternidade responsável, à luz dos requisitos e princípios desta Lei." (Art. 197-C da Lei 8069)

- "É obrigatória a participação dos postulantes em programa oferecido pela Justiça da Infância e da Juventude preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar, que inclua preparação psicológica, orientação e estímulo à adoção inter-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos." (§ 1º do Art. 197-C da Lei 8069)    

- Sempre que possível e recomendável, a etapa obrigatória da preparação referida no § 1o deste artigo incluirá o contato com crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar ou institucional em condições de serem adotados, a ser realizado sob a orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, com o apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de acolhimento familiar ou institucional e pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar. (§ 2º) 

- "Certificada nos autos a conclusão da participação no programa referido no art. 197-C desta Lei, a autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, decidirá acerca das diligências requeridas pelo Ministério Público e determinará a juntada do estudo psicossocial, designando, conforme o caso, audiência de instrução e julgamento. (Art. 197-D)

- "Caso não sejam requeridas diligências, ou sendo essas indeferidas, a autoridade judiciária determinará a juntada do estudo psicossocial, abrindo a seguir vista dos autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo. (parágrafo único do art. 197-D)

- "Deferida a habilitação, o postulante será inscrito nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei, sendo a sua convocação para a adoção feita de acordo com ordem cronológica de habilitação e conforme a disponibilidade de crianças ou adolescentes adotáveis." (art. 197-E)

- O Cadastro Nacional de Adoção tornará mais célere a localização das crianças com as características desejada pelos adotantes, que poderá ser feita em outras cidades e estados.

Há possibilidade de adoção sem se aguardar a ordem cronológica de habilitação e, ainda, é possível pedir a guarda provisória ou definitiva de crianças ou adolescentes:


Comentaremos em breve, continuando o "post".


A menina que sorri: como a adoção salvou Tatiane

Repórter e fotógrafo reencontram menina retratada em reportagem depois de 18 anos

Ricardo Stefanelli | ricardo.stefanelli@zerohora.com.br

Ao ritmo do desembarque da edição dominical de Zero Hora nos pontos de venda ou nos lares, naquele entardecer de sábado, há duas semanas, pingavam mensagens na caixa de e-mails da Redação. Fazia frio no Estado, e milhares cumpriam o ritual de se agarrar ao jornal ainda quente pelas rotativas, como costuma fazer boa parte dos gaúchos nos sábados. 

Pelo celular, também conectado à internet, era possível monitorar a chegada de pistas a conta-gotas sobre a menina sorridente destacada na página 2, retratada em reportagem de 1992, sobre abrigos de crianças. A maioria das mensagens era de esperança, numa corrente informal durante todo o fim de semana, pois muitos temiam pela sorte da menina da Febem.

Vídeo mostra a trajetória da menina que sorri:
 

Às 6h de segunda-feira, se iniciou o ritual de mensagens, numa procissão de sugestões, conselhos e orações até que, à noite, enquanto a Redação corria para fechar a edição do dia seguinte, o canto direito da tela piscou sob um título diferente de todos os demais:

– Você me achou.

O elo começava a se fechar.

Uma rede havia se formado, interligando funcionários da antiga Febem, boa parte deles atuando hoje na Fundação de Proteção Especial, a porção da instituição para abrigar crianças sem infrações. Dedicados como costumam ser com seus filhos emprestados, alguns identificaram as crianças da foto, em especial a sorridente Tatiane, de tiara na cabeça. Por um deles, a garota soube que, àquela altura, milhares de gaúchos estavam à procura de sua história. Um dos interessados era o leitor Marcel Esquivel Hoppe, hoje desembargador da 1ª Câmara Criminal de Porto Alegre, que em 1992 como juiz da Infância e da Juventude assanhou ZH a estimular as adoções.

– Passados 18 anos, acho que aquelas ações nos fizeram homens melhores – comentou o magistrado, um pioneiro na seara da infância e da juventude do Rio Grande.

Convoquei na manhã seguinte Mauro Vieira, o mesmo fotógrafo daquela primavera de 1992, quando conhecemos a menina que, enroscada em nossas pernas, tentava impedir a conversa com os monitores da casa ou com as demais crianças. Na semana passada, foi possível entender um pouco mais daquela doçura e carência: havia quatro semanas que a garota recolhida à Febem não recebia mais a visita semanal da mãe – e ninguém tinha coragem para explicar à criança o que é a morte.

A mensagem “Você me achou” não recebeu resposta imediata. Uma vírgula fora do lugar ou um verbo inadequado poderiam assustar. Era recomendável o contato pessoal, em Belém Novo, numa lotérica, como o recado da noite anterior sugeria. Uma conversa via correio eletrônico era fria demais para um contato adiado por quase duas décadas.

No centro do bairro rural, a porção mais interiorana da capital do Estado, surgiu uma lotérica. Na pequena loja forrada por cartões por todas as paredes foi possível ouvir, ao entrar, o diálogo entre uma atendente e um apostador no guichê.

– É tu naquela reportagem? – perguntava o homem em busca da sorte grande.

Identificamos o mesmo sorriso, os mesmos cabelos, agora sem a tiara e bem alinhados.

– Tu és Tatiane.

O sim veio com a cabeça. Dezoito anos depois, Tatiane voltava a nos abraçar e, como da outra vez, a nos descompor. Pelo reencontro, pela cara boa da menina transformada em mulher, pela mensagem da noite anterior que, abaixo do título, desanuviara o mau tempo:

“É impressionante se lembrar de mim depois de tanto tempo. Espero poder contar um pouco de minha trajetória, mas posso adiantar que o simples fato de eu ter me tornado a pessoa que sou hoje vale todo o resto”.

Conforme a história emergia, já na casa da jovem mulher, um duplo sentimento tomava conta da sala.

Tristeza pela trajetória dolorida. E serenidade emitida pela força de Rosemari, a professora estadual que resgatou a menina da Febem aos nove anos. Rose, docente enérgica e mãe bondosa, desde as primeiras aulas na escola estadual do bairro se impressionara com a história da menina que sorri. Rose sabia como havia sido a relação da garota com o pai, que ela perdera a mãe e, antes de chegar à Febem, passara seis meses hospitalizada. Uma atrofia dos joelhos foi agravada por passar boa parte dos dias sobre a cama, com a companhia da TV, no hotel de quartos escuros onde vivia, no centro da Capital.

– Eu gostava muito da novela Vamp – recorda-se.

Aos fins de tarde, Claudia Ohana e Nei Latorraca, os vampiros, eram os melhores parceiros da garota. Com afazeres no próprio hotel, a mãe biológica não tinha tempo para brincar. O pai, servidor público aposentado, pouco se fazia presente.

Na casa de Rose e Renato Faleiro, ex-funcionário de uma empresa avícola, a menina encontrou o sossego psicológico, pais especiais e três irmãos, filhos naturais do casal que a fazia renascer. A 3 de setembro de 1993, ao celebrar o primeiro aniversário em família, a garota deixou para trás o sobrenome Klagenberg de Mello:

– Este é o dia em que renasci – descreveu para o fotógrafo de ZH a festa de seus 10 anos.

Naquela data, já demonstrava todo o afeto aos carinhos sem fim dos novos pais, das duas irmãs e em especial do irmão três anos mais novo, Igor. Muito apegada ao garoto, seria submetida a um novo teste de resistência, 11 anos depois: o irmão com quem mais se identificara, sempre ao seu lado nas brincadeiras, adoeceu e morreu 21 dias depois do diagnóstico de leucemia. A mulher amadurecida a fórceps em hotéis lúgubres e lares da Febem precisava ajudar a recompor uma família de alma destroçada.

Foi quando Tatiane se interessou em pesquisar as origens. Apesar do pacto familiar firmado havia uma década para apagar o passado, chegara a hora de descobrir de onde vinha, como chegara ali. E por quê. O primeiro passo seria voltar ao hotel do centro da Capital onde nasceu. Precisava conversar com os que a conheceram bebê e viram sua mãe e pai brigarem. Necessitava recolher vestígios daqueles anos, mas a proprietária do local, agora uma senhora de idade, tratou de desidratar a esperança:

– Passa tanta gente por aqui, minha filha.

Tatiane era só mais uma.

À Justiça, requereu seu prontuário de adoção e soube, dias depois, que se tratava de um dos maiores calhamaços da 2ª Vara de Família e Sucessões, pois a insistência do pai em manter o poder familiar encorpara o processo a centenas de páginas. Os funcionários do Fórum se sentiam obrigados a fornecer a papelada, mas tentaram demovê-la, para poupá-la.

Obstinada pelo passado, Tatiane instalou-se no Fórum de modo a decorar linha por linha. Parou em dois capítulos especiais da história. O da trajetória da mãe, Maria, morta em outubro de 1992, vítima de enfisema pulmonar. Ligou para o telefone do Jardim da Paz, mas o não pagamento de aluguel provocara o recolhimento dos ossos. Nem havia onde depositar flores.

– Ficou a imagem de uma mulher doce, mas não lembro do rosto dela.

O segundo capítulo no qual ela estacionou os olhos falava do pai. Apesar dos relatos, queria perdoá-lo. Saiu em busca dele, mas encontrou-o no jazigo 342.349 do bloco 4 do Cemitério João XXIII e, pela lápide, soube que o homem morrera havia um mês.

Pela internet, procurou os filhos do pai biológico, cruzando nomes, sobrenomes, datas e locais de nascimento do pouco que sabia. Descobriu ter quatro meios-irmãos. Uma é falecida. Com os outros, conversa esporadicamente, quando ela telefona. Na linhagem materna, só localizou uma prima e uma tia, mas sentiu no ar uma preocupação por herança que a fez deixar este lado da família biológica para trás.

Depois de tudo saber, renasceu pela terceira vez, avalia hoje. Mais forte e liberta dos traumas, emancipação que nem as psicólogas conseguiram em quatro anos de sessões. Saiu da imersão ao passado mais convicta de que era filha de Rose e Renato, irmã de Ingrid, Sarah e do falecido Igor, cuja foto reluz na parede da boa residência de Belém Novo, três casas ao lado de onde construiu a sua, agora com o marido, o vigilante Gerson Lima, com quem se casou em outubro de 2006.

Para a cerimônia, os tios da Febem foram convidados. O servidor público Hélio Rafael Ortiz, a quem Tatiane chamava de “mãe” em seus tempos de casa-lar, esteve na janta de comemoração. Já com os primeiros cabelos brancos ainda trazia no rosto traços do jovem afetuoso de 22 anos enroscado pelas cinco crianças da foto publicada em novembro de 1992 à página 42 de Zero Hora.

Às vésperas de completar 25 anos, na próxima sexta-feira, Tatiane esboça planos para o futuro. Ela e o marido sonham com um filho.

– Família é tudo – ela diz.

Como ninguém, ela pode dizer isso.



ZERO HORA do dia 29 de agosto de 2010 (domingo)

http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=Geral&newsID=a3021816.xml

sábado, 28 de agosto de 2010

A Igreja Universal do Reino de Deus e as ações judiciais contra jornais e jornalistas – 1

Após reflexão sobre a notícia anterior postada aqui no blog, acerca das investigações que estão sendo feitas nas operações financeiras da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) pelas autoridades dos Estados Unidos da América, recordamos de outros fatos que envolveram a referida instituição recentemente: os diversos processos judiciais que a IURD e seus fiéis ajuizaram contra o jornal Folha de São Paulo e a jornalista Elvira Lobato, depois de matéria que foi publicada, em 15 de dezembro de 2007, naquele periódico.

Até hoje os processos estão tramitando, acreditamos que todos já em fase de recurso. Em fevereiro deste ano (2010), foi noticiado na imprensa que 96 dos mais de 100 processos tiveram sentença contrária à IURD e seus fiéis, favorecendo a Folha de São Paulo e a jornalista Elvira Lobato, inclusive com a condenação de alguns dos autores das ações judiciais por litigância de má-fé (improbidade processual).

As ações foram movidas após a publicação da matéria “Igreja Universal chega aos 30 anos com império empresarial”, elaborada pela jornalista Elvira Lobato, no jornal Folha de São Paulo, de 15 de dezembro de 2007.

Vejamos a reportagem e as notícias sobre as repercussões na IURD e seus fiéis e também dos defensores da liberdade de imprensa:

1. Matéria da jornalista Elvira Lobato, da Folha de São Paulo, sobre a Igreja Universal do Reino de Deus - 15/12/2007

Igreja Universal chega aos 30 anos com império empresarial 

Da Folha de S.Paulo de 15 de dezembro de 2007  

Igreja já tem até sua empresa de táxi aéreo, a Alliance Jet 

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Em 30 anos de existência, completados em julho, a Igreja Universal do Reino de Deus construiu não apenas um império de radiodifusão, mas um conglomerado de empresarial em torno dela. Além das 23 emissoras de TV e 40 de rádio, o levantamento da Folha identificou 19 empresas registradas em nome de 32 membros da igreja, na maioria bispos.

Entre elas, dois jornais diários -"Hoje em Dia", de Belo Horizonte, e "Correio do Povo", de Porto Alegre , as gráficas Ediminas e Universal, quatro empresas de participações (que são acionistas de outras empresas), uma agência de turismo, uma imobiliária, uma empresa de seguro saúde.

A Iurd tem também sua própria empresa de táxi aéreo, a Alliance Jet, de Sorocaba (SP). Segundo informação da empresa, fatura cerca de R$ 500 mil mensais, tem três aviões, um deles adquirido por US$ 28 milhões, neste ano.

Segundo a Junta Comercial de São Paulo, ela pertence a Adilson Higino da Silva, bispo auxiliar de São Paulo, e à MJC Empreendimentos e Participações, a qual, por sua vez, pertence aos bispos Darlan de Ávila, Marco Antônio Pereira e ao mesmo Adilson.

O modelo acionário da Alliance Jet se repete em quase todas as empresas ligadas à Universal. Os jornais diários foram adquiridos na negociação de compra de TVs. O "Correio do Povo" -segundo jornal em circulação do Rio Grande do Sul, com um média diária de 155 mil exemplares- fez parte do pacote que incluiu a TV Guaíba e duas rádios.

O negócio foi fechado no último carnaval, por cerca de R$ 100 milhões. O jornal foi comprado em nome da TV Record de São Paulo e do Rio.

São acionistas da Ediminas , que edita o jornal mineiro ""Hoje em Dia", o bispo Marcelo Silva e o ex-deputado federal e ex-bispo Carlos Rodrigues. Segundo a Folha apurou, a editora recebe R$ 0,25 por exemplar para imprimir o jornal semanal da igreja, o ""Folha Universal", que tem tiragem de 2 milhões de exemplares.

A relação entre a Igreja Universal e as empresas dos bispos é obscura. Muitas delas têm sede em endereços da Iurd. Um exemplo é a Cremo Empreendimentos, que funciona como um braço financeiro da igreja. Ela pertence à Unimetro (outra empresa da Iurd) e ao bispo João Leite. A Cremo é quem financia os bispos na compra de empresas.

Por trás da Unimetro está a Cableinvest, registrada no paraíso fiscal de Jersey, no Canal da Mancha. O elo aparece nos registros da empresa na Junta Comercial de São Paulo. Uma hipótese é que os dízimos dos fieis sejam esquentados em paraísos fiscais.

Troca-troca

Quando um bispo entra em atrito com a igreja, ou se envolve em escândalos -caso de parlamentares-, rapidamente, as ações mudam de mãos.

Foi o que aconteceu com o ex-bispo e ex-deputado federal Wanderval Santos (que pertencia ao PL de São Paulo), denunciado pelo Ministério Público por envolvimento com a máfia das sanguessugas. Depois que o escândalo veio à tona, ele deixou a igreja e vendeu as ações que possuía na Rádio Liberdade (de João Pessoa, Paraíba) e na Rádio Continental (de Florianópolis, Santa Catarina).

Como a maioria dos que perdem o posto, Wanderval não fala sobre o assunto, e protege a imagem da igreja. "Os homens podem ter seus erros, mas a igreja é santa", afirmou.

Procurado pela Folha, disse que vendeu as rádios porque "só dão prejuízo" e por ter se cansado da política, e que sobrevive como vendedor de seguros e de perfumes.

O ex-deputado Carlos Rodrigues deixou de ser acionistas de três TVs -Record do Rio, Itajaí e Xanxerê (SC)- depois que se envolveu no escândalo do mensalão, mas ainda figura como sócio da Ediminas e também de quatro rádios.

Ele tem dado recados de que não pretende abrir mão das rádios. Procurado pela Folha, não quis dar entrevista.

Igreja controla maior parte de TVs do país

A Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) é a maior proprietária de concessões de televisão do país. São 23 emissoras de TV, além de 40 emissoras de rádio registradas em nome de um grupo de pastores, escolhidos entre os de maior confiança de Edir Macedo. A igreja ainda arrenda 36 rádios, que integram a Rede Aleluia.

Nos últimos cinco anos, as principais emissoras de televisão da Record passaram de outros bispos para Edir Macedo. Levantamento exclusivo feito pela Folha em cartórios, juntas comerciais e no cadastro de radiodifusão da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) mostra que ele se tornou dono de 99% das ações da TV Capital, geradora da Rede Record em Brasília; de 50% da TV Sociedade, de Belo Horizonte, de 48% da TV Record do Rio e de 30% da Record de São José do Rio Preto (SP).

O movimento se deu após a regulamentação da emenda constitucional 222, que autorizou a participação de pessoas jurídicas como acionistas de rádio e televisão. Antes, só pessoas físicas - brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 anos- podiam ter empresas de radiodifusão.
Até a mudança constitucional, Macedo e a mulher, Ester Bezerra, eram proprietários, oficialmente, apenas de duas emissoras de televisão -a Rádio e Televisão Record S.A, que tem a concessão em São Paulo, e a Record de São José do Rio Preto-, além da Rádio Copacabana, no Rio, sua primeira investida na mídia.

A Rádio e Televisão Record S.A (da qual Macedo tem 90% das ações e sua mulher, Ester Bezerra, 10%) "comprou" as ações de outros bispos.

O movimento reforça as suspeitas de empresários do setor de que Macedo seja o verdadeiro dono de toda a rede Record, o que faria dele um bilionário. O valor atual estimado da Rede Record é de R$ 2 bilhões.

Macedo comprou a Record de Silvio Santos e da família Machado de Carvalho, por US$ 45 milhões, em 1989, o que significa um crescimento patrimonial do grupo de 4.344% desde então.


Bispos

O bispo Marcelo da Silva, presidente da TV Record do Rio, é acionista de sete rádios e de três televisões (TV Record de Bauru, TV Independência Sudoeste, no Paraná e TV Record de Campos, no Norte Fluminense).

Sidnei Marques, de Belo Horizonte, é acionista de seis rádios e das televisões de Belém (TV Marajoara), Brasília e da Rede Mulher. O bispo escolhido por Edir Macedo para sucedê-lo, Romualdo Panceiro, é acionista da Rede Família, da Record News, da Record de Campos (Norte Fluminense) e de uma rádio na Bahia.

O deputado federal e bispo licenciado Antônio Carlos Bulhões (PMDB-SP), é acionista de seis rádios e da Rede Mulher (atual Record News).

A legislação em vigor não permite que igrejas explorem diretamente, o serviço de radiodifusão. A Igreja Católica tem a maioria de suas emissoras (12 TVs e 215 rádios) em nome de fundações.
A Iurd ultrapassou as Organizações Globo em número de concessões próprias de televisão, mas a Record disputa com o SBT o segundo lugar faturamento publicitário.

A família Marinho chegou a ter participação relevante ou controle de 32 emissoras (fora as afiliadas), mas vendeu a maior parte para pagar as dívidas da Globopar, em 2002.

Hoje, a Globo tem cinco concessões de TV (São Paulo, Rio, Recife, Belo Horizonte e Brasília) e filhos e netos de Roberto Marinho têm 10% do capital de 18 afiliadas. Os grupos Bandeirantes e SBT têm 10 concessões de TV, cada um.

Há pelo menos 10 anos, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal investigam a origem dos recursos usados por Macedo na compra da Record. O último inquérito, com este propósito, foi aberto em outubro, pela PF, em São Paulo. Em 2002, Edir Macedo declarou rendimento anual de apenas R$ 8.289,60, segundo cópia de documento na Justiça.

Em entrevista à Folha, em outubro, Macedo disse que a Iurd é apenas cliente da Record, mas esquivou-se de dizer quanto ela repassa à emissora como aluguel de espaço na madrugada, e sobre como ele comprou a Record.

Há uma ação no Tribunal Regional Federal de São Paulo, proposta pelo Ministério Público Federal, que aponta indícios de que o dinheiro da compra das TVs Record de São Paulo, Franca e São José do Rio Preto saiu de doações de fiéis. A anulação das concessões foi negado na primeira instância.

Uma outra ação, proposta pelo ex-deputado Afanázio Jazadji, apura o suposto uso de bispos como "laranjas" da igreja na compra de emissoras. Ela foi recentemente desmembrada para vários Estados, pelo Supremo Tribunal Federal.

O STF arquivou, em 2006, o inquérito contra o senador Marcelo Crivella e outros membros da igreja que investigou, por sete anos, o ingresso de US$ 18 milhões, via Uruguai, para compra da TV Record do Rio e de rádios. O dinheiro teria sido enviado por duas empresas da Iurd, baseadas em paraísos fiscais. (ELVIRA LOBATO)

Plano da Igreja Universal gera disputa judicial com ex-bispos

A estratégia da Igreja Universal do Reino de Deus de colocar empresas em nome de religiosos já resultou em duas disputas judiciais com ex-bispos: uma em Santa Catarina e outra no Rio de Janeiro.

O ex-bispo Marcelo Nascente Pires acusa Edir Macedo de fraudar uma procuração para lhe tirar as ações das TVs Itajaí e Xanxerê, ambas de Santa Catarina. As emissoras fazem parte da Rede Record.

O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) foi condenado pela Justiça do Rio a pagar R$ 1,5 milhão ao ex-bispo Paulo Roberto Gomes da Conceição, referente a ações da TV Cabrália, de Itabuna (BA). Os dois foram sócios na emissora. Ele rompeu com a igreja e cobrou o pagamento das ações. Crivella tem 15 dias, a contar da última quinta, para pagar a dívida.

O ex-bispo Marcelo Pires também era do grupo de confiança de Edir Macedo. Além das duas emissoras de TV, foi acionista da Colonial Administração de Imóveis (imobiliária), Unimetro Empreendimentos (loteamento e incorporação de imóveis), Fênix Comunicações e Line Records. Ainda é acionista desta última.

Como os demais bispos, Pires comprou as ações financiado por empréstimos da Iurd. No caso dele, o financiamento foi pela Cremo Empreendimentos, de São Paulo, também registrada em nome de bispos. De um lado, ele devia à igreja, e do outro, assinou procurações, com datas em branco, autorizando a venda das empresas -uma delas era para Macedo.

Na estratégia da Iurd, segundo ex-acionistas, quando as empresas passam de um bispo para outro, a venda é feita pelo valor da dívida, e o comprador herda o empréstimo. Ao romper com a igreja, o acerto entre a Iurd e Pires ruiu.

A Cremo Empreendimentos entrou com ação contra ele na Justiça de São Paulo, em outubro de 2001, cobrando o pagamento dos empréstimos que ele assinara. O valor cobrado é de R$ 1,7 milhão.

O ex-bispo, por seu turno, alegou que a procuração que havia dado a Macedo, em setembro de 1996, teria sido fraudada, porque dava poderes para vender uma empresa, e foram vendidas três: as duas TVs e a Rede Fênix de Comunicação.

Um ato falho dos advogados revelou que a Iurd está por trás da Cremo. Em fevereiro deste ano, a advogada Tatiana Tiburcio, da igreja, anexou um documento ao processo judicial, em São Paulo, onde a autora é a Iurd e não a Cremo.

Em janeiro de 2002, as cotas da TV Itajaí foram transferidas para o bispo Honorilton Gonçalves, vice-presidente da TV Record. O processo da TV Xanxerê se arrastou até novembro de 2002, quando as ações foram também transferidas a Gonçalves, por R$ 91 mil.
Pouco antes de a venda ter sido registrada na Junta Comercial, Pires ofereceu as ações da TV Xanxerê à penhora para pagamento da dívida cobrada pela Cremo. A Junta Comercial de Santa Catarina, em junho deste ano, suspendeu a transferência das ações, até que haja uma decisão final da Justiça sobre o caso. Até lá, o ex-bispo volta a ser sócio da emissora.

Livro sobre bispo avalia Rede Record em US$ 2 bilhões

No livro "O Bispo - A História Revelada de Edir Macedo" -biografia autorizada do fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, recentemente publicada pela editora Larousse- a Rede Record é avaliada em US$ 2 bilhões.

A igreja não quis dar declaração ou informação sobre seu vínculo com as emissoras de TV da Rede Record, as emissoras de rádio e as empresas registradas em nome de bispos ou outros membros da instituição.

A Folha encaminhou dois e-mails com detalhes sobre o conteúdo da reportagem, além de pedidos de entrevista feitos por telefone. A resposta, via assessoria de imprensa, foi de que não se manifestaria sobre nenhum dos temas abordados.

No livro biográfico de Macedo, escrito pelo diretor de jornalismo da Rede Record, Douglas Tavolaro, e por Christina Lemos, repórter especial do Jornal da Record, ele é indagado sobre quantos bens possui em seu nome, e responde:

"Sou proprietário da Record e da Rádio Copacabana, do Rio de Janeiro. Além disso, tomei empréstimo bancário há pouco tempo para a compra de um apartamento nos Estados Unidos, e pretendo saldá-lo com os direitos autorais das vendas de meus 34 livros. Mas o empréstimo é para pagar em 30 anos."

Ao se declarar proprietário da Record, deixa implícito que é o dono de todas as emissoras da rede, ao passo que, oficialmente, muitas estão em nome de outros membros da igreja. Afirmou ainda que nunca recebeu dividendos da Record, e que todo o lucro é reinvestido no crescimento da rede.

No livro, ele responde à acusação de que a Universal injeta dinheiro na emissora. Diz que a igreja é só cliente da Record, e aluga espaços na programação. "A igreja paga pelo aluguel da madrugada, horário, aliás, que a Globo e o SBT não querem alugar (...) A Record está crescendo com as próprias pernas."

À pergunta sobre se está rico, não mensurou seu patrimônio em cifras. "Rico? Muito. Talvez seja o homem mais rico do mundo. Sou milionário. Tenho uma família maravilhosa. Faço o que gosto, falo de Jesus. Tenho liberdade. Não vivo à base de tranqüilizantes. Sou uma pessoa livre. Quer riquezas maiores do que essas?"

Indagado sobre o que é feito com o dinheiro que entra na igreja, respondeu que é usado para pagamento das despesas com manutenção dos templos, programação de rádio e televisão feita por pastores, folha de pagamento de funcionários, aluguéis, ajuda de custo dos pastores, construção de igrejas e "mais um batalhão de compromissos".

A publicação comenta também os inquéritos e processos contra Edir Macedo. Desde 1990, foram 21 processos e inquéritos criminais, de curandeirismo a sonegação de impostos. Do total, segundo os autores do livro, cinco prescrevem e 15 foram arquivados por falta de provas.

Origem

A Igreja Universal foi fundada em 1977, por Edir Macedo, à época funcionário da Lotérica do Rio. Ela é uma das cinco maiores igrejas evangélicas neopentecostais do país, corrente cristã que prega curas espirituais e a ascensão financeira por meio da fé. Essa vertente conta ainda com igrejas como a Renascer em Cristo e possui cerca de 24 milhões de seguidores no Brasil.


A Igreja Universal do Reino de Deus e as ações judiciais contra jornais e jornalistas – 2

Agora vejamos as repercussões que a matéria jornalística gerou:

2. Matéria sobre repercussão 1: os ajuizamentos das ações judiciais



18/02/2008 - 16h29

ABI diz que ações da Igreja Universal são "grave ameaça à liberdade de expressão"

da Folha Online

Em nota divulgada nesta segunda-feira, a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) declara estar em "extremada preocupação" com as ações judiciais ajuizadas contra os jornais Folha de S.Paulo e "A Tarde", de Salvador, e a jornalista Elvira Lobato, repórter da Folha. As ações foram lançadas em diversos pontos do país por pastores e fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus, desde que a jornalista da Folha fez uma reportagem sobre o império da Universal, construído nos últimos 30 anos.

A associação considera que as ações constituem "grave ameaça à liberdade de informação e de expressão e pede à Anistia Internacional um movimento mundial em defesa dos dois jornais e da jornalista".

Confira a íntegra da nota da ABI:

"Como a mais antiga associação de imprensa do país e devotada desde a sua fundação, em 7 de abril de 1908, à defesa da liberdade de informação e de expressão, a Associação Brasileira de Imprensa acompanha com extremada preocupação o conjunto de ações judiciais ajuizadas contra os jornais Folha de S.Paulo e "A Tarde" de Salvador e contra a jornalista Elvira Lobato, repórter da Folha, por pastores e fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus, que desencadearam contra esses órgãos e contra essa jornalista uma campanha de intimidação e coerção sem precedentes na história da comunicação no Brasil.

Ao longo de sua existência, o país conheceu a fúria repressiva do poder do Estado contra a liberdade de imprensa, como se deu sob o Estado Novo e sob a ditadura militar que nos infelicitou entre 1964 e 1985, mas jamais assistira a uma investida partida da própria sociedade civil contra a liberdade de informação com a abrangência e o conteúdo desta que se materializa nas ações judiciais armadas contra esses jornais e contra essa jornalista. Através desse procedimento, buscam os autores de tais ações obter a cobertura do Poder Judiciário para cercear e condicionar o exercício do direito de informação.

Numa evidência de que há um cérebro e um comando a centralizar a instauração dessas ações judiciais, seus autores estão espalhados por quase 20 Estados da Federação, no caso da Folha de S.Paulo, e ajuizaram esses feitos em municípios longínquos, numa clara demonstração de que a ação assim coordenada tem por objetivo dificultar a defesa da parte adversa. Há a nítida intenção de dificultar o direito de ampla defesa e do contraditório assegurado pela Constituição, em face da disposição da lei processual de que o alegado na inicial será tido como procedente se não houver contestação, ainda que se ressalve, nesta hipótese, a formulação de convicção própria pelo juiz.

A existência de um comando na ação liberticida fica patente também em outros aspectos desse conjunto de ações, que repetem a mesma redação em quase todas as petições, à exceção de umas poucas, fazendo a mesma descrição, exibindo os mesmos argumentos e formulando as mesmas postulações, entre as quais a concessão do benefício da justiça gratuita, para livrar os autores dos ônus materiais de sua iniciativa. Salvo um ou outro caso, em que se reclama o pagamento de indenizações por danos morais que variam entre R$ 10.000,00 e 12.000,00, os demandantes fixam o valor do pleiteado em R$ 1.000,00, para diminuir o montante de seu desembolso na hipótese de negação do pedido de benefício da justiça gratuita pelo juiz da causa.

Subscritas por pastores mobilizados pela Igreja Universal como um encargo de seu ofício religioso ou por fiéis convocados para tal missão, essas ações constituem em seu conjunto intolerável agressão à ordem democrática, pelo empenho em substituir o exercício de direitos consagrados pela legislação, especialmente o direito de resposta, por alternativa que, embora aparentemente abrigada pelas leis do país, subtrai o direito de ampla defesa estabelecido pela Constituição. É grave e preocupante que tal se faça sob o pálio de uma confissão religiosa, que se porá acima do olhar dissonante dos que não a professam e da visão crítica com que estes a encarem.

A ABI dirige-se aos magistrados responsáveis pelo julgamento dessas ações para alertá-los acerca dos danos que o deferimento do pleiteado pode causar à democracia no país, objeto de um processo de construção ainda não encerrado e que deixou ao longo da recente História do Brasil não poucas vítimas e não poucos mártires.

Apela também a ABI aos cidadãos comuns e às instituições representativas dos diferentes segmentos da sociedade para que manifestem a esses magistrados a sua preocupação com a decisão que deverão tomar em cada causa, que não afeta apenas a Folha de S.Paulo, "A Tarde" e a jornalista Elvira Lobato, mas principalmente a integridade da democracia no país. Com esse fim a ABI divulgará proximamente em seu site (www.abi.org.br) os nomes desses juízes e os endereços desses juizados, para viabilizar a manifestação dos cidadãos ofendidos por essa ação antidemocrática.

Por fim apela a ABI à Anistia Internacional para que desencadeie um movimento mundial de solidariedade com os jornais e a jornalista ora ameaçados.

Rio de Janeiro, 18 de fevereiro de 2008
Mauricio Azêdo, presidente."

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u373568.shtml


3. Matéria sobre repercussão 2: os ajuizamentos das ações judiciais

19.01.2008

Fiéis da Universal fazem mutirão para processar Folha de S. Paulo

Desde o início desta semana, 28 fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus entraram na Justiça com ações individuais contra a Empresa Folha da Manhã S.A., que edita o jornal Folha de S. Paulo, e contra a jornalista Elvira Lobato. Os processos são independentes — cada um tramita numa determinada cidade ou estado. A informação foi divulgada pelo próprio jornal neste sábado (19/1).

Nas ações, todos os fiéis se dizem ofendidos pela reportagem "Universal chega aos 30 anos com império empresarial", publicada pela Folha em de 15 de dezembro. No texto, a repórter Elvira Lobato relatou que, em 30 anos de existência, a Igreja Universal construiu um conglomerado empresarial em torno do grupo. Elvira Lobato informou que uma das empresas da Igreja, a Unimetro, está ligada à Cableinvest, registrada no paraíso fiscal da ilha de Jersey, no canal da Mancha. "O elo aparece nos registros da empresa na Junta Comercial de São Paulo. Uma hipótese é que os dízimos dos fiéis sejam esquentados em paraísos fiscais", informou a repórter.

Acusação e defesa


Nos processos, os 28 fiéis sustentam que a reportagem "insinuou" que os membros da igreja são pessoas inidôneas e que o dízimo pago por eles é produto de crime. As petições são iguais, com parágrafos e citações bíblicas idênticas.

A ação ajuizada pelo pastor Nalcimar Estevam Araújo, de Jaguarão (RS), representado pela advogada Maristela Carvalho de Freitas, tem 23 parágrafos idênticos ao iniciado por Ailton Cantuário da Silva, de Catolé do Rocha (PB), que é defendido pela advogada Kaline Gomes Barreto. O dano narrado pelas partes é idêntico:

"O autor [da ação] passou a ser apontado por seus semelhantes com adjetivos desqualificantes e de baixo calão, além de ser abordado com dizeres do tipo: "Viu só! Você que é trouxa de dar dinheiro para essa igreja!" "Esse é o povo da sua igreja! Tudo safado!!" "Como é que você continua nessa igreja? Você não lê jornal, não?" "É. Crente é tudo tonto, mesmo."

Em todos os demais processos, cada um dos fiéis também diz ter ouvido exatamente as mesmas frases provocativas. A maioria das ações foi ajuizada em cidades pequenas, como Santa Luzia (PB), Cajazeiras (PB), Bom Jesus da Lapa (BA), Canavieiras (BA), Bataguassu (MS), Alegre (ES) e Barra de São Francisco (ES).

"Nenhum dos autores foi mencionado na reportagem e não há referência negativa nem aos fiéis da religião nem à Igreja Universal. Não houve nenhum abuso do direito de informação. Sei que sairemos vencedores nessa discussão", afirmou a advogada Taís Gasparian, que representa a Folha.

Fonte:http://www.conjur.com.br/2008-jan-19/fieis_universal_processam_folha_paulo


2. Matéria 2

19/02/2008 - 02h30

Record exibe reportagem de 14 minutos

da Folha de S.Paulo

A Record, do bispo Edir Macedo, exibiu anteontem, no "Domingo Espetacular", reportagem sobre as ações movidas por fiéis da Igreja Universal contra a Folha e a jornalista Elvira Lobato. As ações contestam textos sobre os negócios da instituição, publicados pelo jornal em dezembro.

A reportagem foi uma das mais longas do programa (mais de 14 minutos de duração). Antes de entrar no ar, recebeu dos âncoras Paulo Henrique Amorim e Janine Borba oito chamadas. Só no terceiro bloco, no qual foi exibida, teve quatro chamadas. O texto falava em "evangélicos que descobrem na Justiça uma arma contra o preconceito religioso".

A Record ouviu advogados de fiéis e pastores que processam a Folha e Lobato, além de um advogado favorável aos evangélicos.

Afirmou que o jornal tentou reunir em um único processo todas as ações "para facilitar a defesa", mas que o pedido foi negado pela Justiça, o que "repercutiu na imprensa gaúcha e ganhou manchetes". Mostrou página da edição da última sexta, do "Correio do Povo", com título "Justiça impõe derrota à Folha de S.Paulo em ações de fiéis da Igreja Universal", mas omitiu o fato de o "Correio do Povo", de Porto Alegre, pertencer à própria Record, emissora da Universal. Também não informou que a Folha já obteve vitória em 5 das 56 ações.

Foram entrevistados fiéis que prometeram processar o diário "O Globo" por reportagem a respeito da ação contra a Folha na qual a Universal foi chamada de "seita". O "Domingo Espetacular" teve audiência média de 14 pontos, contra 22 da Globo no horário (dados prévios do Ibope da Grande São Paulo). A reportagem foi reprisada ontem no "Hoje em Dia" e no "Jornal da Record".

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u373686.shtml


Não conseguimos localizar o vídeo da matéria do “Domingo Espetacular” no “Youtube” e sítios do gênero.


3. Seleção de notícias organizada pela Associação Brasileira de Imprensa (por Letícia Nunes)

Quarta-feira, 20/2

Elvira Lobato desabafa sobre programa da Record


Por Leticia Nunes (seleção de textos) em 20/2/2008


Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas.

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Portal Imprensa

Quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008


IMPRENSA NA JUSTIÇA
Pedro Venceslau

Elvira Lobato desabafa: ‘Me senti profundamente agredida’, 19/2/08

"Em 35 anos de profissão, sendo 23 na Folha de S.Paulo, a repórter especial Elvira Lobato nunca tinha enfrentado, ou ouvido falar, de um massacre como esse a que vem sendo submetida pela ofensiva da dobradinha Record - Igreja Universal, depois que assinou a reportagem ‘Universal chega aos 30 anos com império empresarial’.

Levantamento feito pela Associação Brasileira de Imprensa mostrou que ela tem razão. A enxurrada de processos em escala nacional da Igreja de Edir Macedo contra ela e o jornal é um ataque sem precedentes na história da imprensa brasileira. Elvira, que trabalha na sucursal carioca do jornal, esteve hoje em São Paulo (SP) para conversar com a direção da Folha e com os advogados. Antes de voltar para o Rio, ela recebeu IMPRENSA para a seguinte entrevista:

IMPRENSA - Se a enxurrada de processos foi uma surpresa, o que dizer da reportagem da Record do último domingo?

Elvira Lobato - Eu só a vi a matéria ontem. Respeito muito o trabalho do repórter. Ele (Afonso Mônaco) me ligou e eu fui delicada e respeitosa. Disse que não podia falar porque isso é uma coisa muito grande. Uma coisa é eu falar com você, que é de uma revista, outra é a TV, que fala com milhões de pessoas. Pedi que ele procurasse o departamento jurídico, porque aquilo seria outra escala. De qualquer forma, eu não imaginava que fosse sair aquela matéria que saiu (domingo, na Record). Aquilo foi uma cosia que me deixou completamente em estado de choque. Me senti profundamente agredida. Mostraram minha foto...isso me entristeceu muito. Eu não imaginava que o jornalista pudesse fazer uma coisa dessas. Jogaram as pessoas contra mim, mostraram minha cara. Qual o objetivo disso? Eu nunca desrespeitei os fiéis, nunca falei que o dinheiro deles é sujo. Sei que eles são trabalhadores limpos. Espero que eles, os fiéis, tenham serenidade. Não sou inimiga da Igreja. Meu trabalho é informar. Eu queria entender porque fizeram aquilo comigo.

IMPRENSA - Foi uma surpresa ver o Paulo Henrique Amorim e o Afonso Mônaco apresentando a matéria?

Elvira - Olha, isso é uma coisa mais emocional minha. Há momentos na vida de uma pessoa que ela faz coisas que não concorda. Pode ser por necessidade de dinheiro, para pagar o tratamento de um filho que está no hospital. Existem coisas que justificam...Enfim, o tom da matéria não está à altura daqueles profissionais. O que aconteceu? Eles é que têm que explicar. Se fizeram isso por uma questão de sobrevivência, durmam tranqüilos porque eu os perdôo. Mas se não for isso, não consigo perdoar. Colocar meu rosto daquela maneira... Quem trabalha em jornalismo sabe quem eu sou. Tenho 35 anos de trabalho como repórter.

IMPRENSA - Como tem sido enfrentar essa avalanche de processos no Brasil inteiro? Você tem se deslocado para participar das audiências?

Elvira - A ABI (Associação Brasileira de Imprensa) examinou os processos e disse que esse é um caso único, sem precedentes na história do jornalismo brasileiro. Eles entraram contra mim e contra a Folha em juizados especiais, também chamados de juizados de pequenas causas. Nesse tipo de instância eu, como pessoa física, tenho que estar presente. Isso seria inviável, porque, em alguns casos, tem duas audiências no mesmo dia em lugares completamente diferentes. A Folha se faz representar. Não é que o caso está correndo à revelia. Estamos cuidando de todos. O jornal nomeia um jornalista ou chefe da região que vai junto com os advogados. Isso exige uma logística inacreditável de advogado para cima e para baixo."


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Folha de S. Paulo

Quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008


IMPRENSA NA JUSTIÇA
Janaina Lage

Lula não vê ameaça à liberdade de expressão

"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que, na sua avaliação, as mais de 50 ações judiciais movidas em nome de fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus contra a Folha não são uma ameaça à liberdade de expressão e disse que elas fazem parte da consolidação da democracia no país.

O presidente foi questionado durante visita ao gasoduto Cabiúnas-Vitória se concordava com a avaliação da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), que havia divulgado na segunda-feira uma nota de repúdio à estratégia adotada pela Universal para processar a Folha e a repórter Elvira Lobato.

Lula afirmou que, se a Igreja Universal recorreu ao Poder Judiciário, ela está usando ‘um dos pilares da democracia para questionar o jornal’. Questionado se essa avaliação seria válida mesmo que houvesse uma ação orquestrada da igreja com ações em diversos pontos do país sob orientação de sua cúpula, o presidente respondeu que ‘a liberdade de imprensa pressupõe isso’.

‘A liberdade de imprensa pressupõe a imprensa escrever o que quiser, mas pressupõe também que a pessoa que se sinta atingida vá a Justiça para provar a sua inocência. Não pode ter liberdade de imprensa se apenas um lado achar que está certo’, afirmou o presidente. ‘Então liberdade de imprensa pressupõe uma mistura de liberdade e responsabilidade. As pessoas escrevem o que querem e depois ouvem o que não querem. Essa é a liberdade de imprensa que nós queremos’, complementou Lula.

Em 15 de dezembro, a Folha publicou a reportagem ‘Universal chega aos 30 anos com império empresarial’, da repórter Elvira Lobato. Fiéis entraram com ações em diversos pontos do país afirmando que se sentiram ofendidos pelo teor da reportagem.

As ações apresentam a mesma terminologia e são embasadas com os mesmos argumentos e até idênticas supostas frases ouvidas pelos fiéis nas ruas em mais de 50 cidades diferentes. Em dois casos, os juízes condenaram os fiéis por usar o Judiciário de forma indevida, o que é denominado litigância de má-fé. A Folha ganhou as cinco causas já julgadas até agora.

Além da Folha, fiéis da Universal movem ações contra os jornais ‘Extra’ e ‘A Tarde’, devido a uma reportagem sobre a danificação de uma imagem sacra numa igreja católica de Salvador por um fiel da Universal, e contra ‘O Globo’, por ter denominado a igreja de seita.

‘O dia em que a Folha de S.Paulo se sentir atingida pela Igreja Universal ela vai processar a Igreja Universal. O dia em que a Igreja Universal se sente atingida pela Folha, vai processar a Folha. E assim a democracia vai se consolidando no Brasil’, afirmou Lula ontem.

No domingo, a rede Record, do bispo Edir Macedo, exibiu uma reportagem de 14 minutos no ‘Domingo Espetacular’ sobre as ações movidas por fiéis contra a Folha e a repórter. A reportagem afirmou que a Folha teve um pedido negado pela Justiça de reunir em um único processo todas as ações, mas não informou as vitórias que o jornal já obteve na Justiça.

Em nota, a ABI afirmou que acompanha com preocupação as ações ajuizadas contra a Folha, e também contra os jornais ‘Extra’, do Rio, e ‘A Tarde’, de Salvador, e contra a repórter. De acordo com a ABI, trata-se de ‘uma campanha de intimidação e coerção sem precedentes na história da comunicação no Brasil’.

NA INTERNET - Leia as reportagens www.folha.com.br/080496"

REPERCUSSÃO

"JOSÉ ALENCAR, vice-presidente: ‘Eu hoje li um editorial na primeira página [da Folha] a respeito desse assunto, a preocupação com qualquer coisa que possa representar posicionamento contra a liberdade de imprensa. Vocês sabem que a minha posição sempre foi de respeito absoluto à liberdade de imprensa. Quando há um equívoco, [a imprensa] deve corrigir no mesmo espaço e com a mesma intensidade. Isso é o que a gente gostaria que acontecesse. Mas isso [ações da Universal] é um assunto que vai naturalmente ser objeto de desdobramentos nos próximos dias. Vamos acompanhar com a maior atenção’

JOSÉ SARNEY, senador pelo PMDB-AP e colunista da Folha: ‘Sou radicalmente contra qualquer ação direta ou indireta para coibir a liberdade de imprensa ou para intimidar no sentido de estimular uma censura prévia. Os casos relacionados pela Folha merecem atenção, e a Justiça deve levar em consideração’

FRANKLIN MARTINS, ministro de Comunicação Social: ‘Como qualquer pessoa numa democracia, os fiéis da Igreja Universal têm o direito de recorrer à Justiça se se sentiram atingidos. No entanto, nesse caso, o fato de o mesmo tipo de ação ter sido apresentado em diferentes pontos do país pode configurar uma punição prévia, porque joga uma carga muito grande sobre a jornalista e o jornal, consumindo tempo e recursos. O ideal seria concentrar os processos numa só ação’

GARIBALDI ALVES, presidente do Senado e senador pelo PMDB-RN: ‘Não estou em condições de avaliar o mérito da questão. Mas tentar coibir a atividade jornalística é um equívoco’

MARCELO CRIVELLA, senador pelo PRB-RJ e integrante da Igreja Universal:

‘Sou a favor da liberdade de imprensa. Mas acho também que os fiéis têm o direito de ir à Justiça se se sentirem ofendidos’"

Silvana de Freitas

Ministro do STF condena a ‘litigância de má-fé’ e defende liberdade de imprensa


"O ministro mais antigo do STF (Supremo Tribunal Federal), Celso de Mello, criticou ontem a ‘litigância de má-fé’ e o ‘abuso do direito de demandar’ a Justiça, ao comentar a série de ações de fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus movidas em todo o país contra a Folha e outros jornais.

‘A atuação de qualquer parte interessada em juízo está sempre sujeita a certos critérios éticos e também de natureza jurídica. O abuso do direito de demandar tem uma resposta clara estabelecida pelo próprio sistema legal.’

‘Aquele que abusa do seu direito de ação e ingressa em juízo com motivação que não tem respaldo na ordem jurídica sofre sanção processual. É litigância de má-fé’, disse. A punição prevista é multa.

Três ministros do STF - além de Mello, Gilmar Mendes, que em abril assumirá a presidência do tribunal, e Carlos Ayres Britto- afirmaram que a liberdade de imprensa é fundamental na democracia.

Britto afirmou que um dos papéis da imprensa é dar visibilidade ao poder. ‘Não só o poder público, mas também o poder econômico, o religioso.’

‘Quando se litiga com a imprensa, há de se ter muito cuidado, porque a Constituição faz da liberdade de imprensa um postulado de valor quase absoluto’, declarou.

Para Mendes, ‘o valor liberdade de imprensa é fundamental e deve ser preservado; é um dos elementos fundamentais do Estado democrático de Direito.’ E afirmou ainda: ‘É preciso que os juízes, nas ações, avaliem a possibilidade de litigância tendo em vista os devidos contextos.’

Os três ministros disseram que não fariam avaliações sobre o caso específico das ações de fiéis da Universal contra jornais, porque mais à frente terão de julgar a causa. Optaram por tratar do assunto em tese.

O presidente da OAB, Cezar Britto, também criticou a reação da Universal. ‘A busca da reparação judicial é recurso legítimo do Estado democrático de Direito. Não pode, no entanto, esse direito transformar-se em instrumento de perseguição política, exercendo papel de censura e de intimidação à liberdade de expressão.’"


Para ANJ, ação tem caráter autoritário

"Leia a nota divulgada pela ANJ e assinada pelo vice-presidente da entidade, Júlio César Mesquita.

‘A Associação Nacional de Jornais (ANJ), na condição da mais representativa entidade dos jornais brasileiros e no cumprimento do seu histórico objetivo de defender a liberdade de expressão, o livre exercício da profissão de jornalista e o direito de o cidadão de ser informado, vê com imensa preocupação as recentes ações judiciais movidas por fiéis e pastores da Igreja Universal do Reino de Deus contra jornais do país. Até a presente data, já chegam a 56 as ações contra a Folha de S.Paulo, 35 contra ‘A Tarde’, de Salvador (BA), e 5 contra o ‘Extra’, do Rio de Janeiro (RJ). No caso da Folha, as ações estão relacionadas a reportagem sobre a evolução da Igreja Universal. Nos casos de ‘A Tarde’ e ‘O Extra’, o motivo das ações foi reportagem sobre a danificação de uma imagem sacra numa igreja católica de Salvador por um fiel da Universal.

As ações judiciais alegam pretensos danos morais sofridos pelas fiéis da Universal, mas não escondem o claro propósito de intimidar o livre exercício do jornalismo. São obviamente resultado de um planejamento, com argumentações, estratégias e objetivos idênticos. Mover as ações em grande número, com origem em diversos pontos do país, é uma tática que evidencia o verdadeiro intuito de causar transtornos aos jornais e jornalistas, que se vêem obrigados a comparecerem e constituírem defesa em dezenas de cidades e a multiplicarem, conseqüentemente, os custos de sua defesa. Na medida que criam essas dificuldades, os autores das ações e seus mentores, a rigor, pretendem induzir jornais e jornalistas a silenciarem informações a respeito da Universal. É uma iniciativa capciosamente grosseira e que afronta o Poder Judiciário, já que pretende usá-lo com interesses não declarados.

Felizmente, diversos juízes já tomaram decisões contrárias às ações, denunciando seus verdadeiros e condenáveis propósitos.

A ANJ renova sua solidariedade aos jornais e jornalistas alvos dessas ardilosas ações judiciais e se coloca à disposição desses e de outros veículos e profissionais que venham a sofrer igual violência. A imprensa brasileira tem uma longa e valiosa tradição na defesa dos interesses da sociedade e dos cidadãos de nosso país e não aceitará, de forma alguma, qualquer iniciativa que vise a constranger ou impedir o cumprimento desta missão.

A ANJ chama a atenção da sociedade brasileira para o caráter autoritário dessa ação orquestrada, que usa fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus contra os valores da liberdade em nosso país, se baseia na intolerância e indica a preocupante pretensão de impor um pensamento único, incompatível com a convivência democrática. É preciso impedir, desde já, o avanço dessa escalada obscurantista.’"


Universal diz não haver ‘orquestração’ de ações e critica ‘preconceito da mídia’


"Leia a íntegra da nota divulgada ontem pela Igreja Universal do Reino de Deus.

‘A Igreja Universal do Reino de Deus, entidade religiosa há 30 anos no Brasil, com mais de 5 milhões de fiéis e presente em 170 países, vem a público esclarecer que:

1. Fiéis de várias partes do país estão procurando a Iurd para manifestar seu repúdio em relação às notícias classificadas como lamentáveis, publicadas por veículos de comunicação, especialmente no que se refere à origem e destinação de seus dízimos;

2. O dízimo é um aspecto da liberdade de crença consagrada pela Constituição Federal;

3. A Iurd já ingressou com suas ações judiciais e não tem qualquer interesse de orquestrar e incentivar processos individuais por parte de seus fiéis;

4. A Iurd respeita a liberdade de imprensa, os jornalistas e suas entidades representativas, porém, não admite que reportagens sejam usadas para ofensas de outras garantias constitucionais como a dignidade da pessoa humana, o acesso à Justiça, à liberdade de crença e à inviolabilidade da honra;

5. A imprensa deve atuar com responsabilidade e não prejulgar, manipular ou condenar precipitadamente;

6. A Iurd não está à margem da sociedade. É uma entidade regularmente constituída, conforme a legislação brasileira, que deve ser respeitada como todas as outras denominações religiosas no Estado democrático de Direito. É inaceitável, que no uso de suas prerrogativas, a mídia utilize denominações ofensivas e preconceituosas como seita, bando e facção em referência à Iurd;

7. A Iurd apóia a posição de todas as entidades de classe quando está em questão a democracia. A imprensa, com responsabilidade, pode noticiar, e os fiéis, da mesma forma, podem acessar a Justiça;

8. Cabe ao Judiciário, com a imparcialidade e independência que lhe são inerentes, a palavra final.’"


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O Estado de S. Paulo

Quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

IMPRENSA NA JUSTIÇA
Moacir Assunção e Clarissa Oliveira

Para ANJ, Universal faz ‘escalada obscurantista’

"A Associação Nacional de Jornais (ANJ), entidade representativa da mídia impressa brasileira, soltou ontem uma nova nota na qual demonstra ‘imensa preocupação’ com as ações de fiéis e pastores da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) contra jornalistas e empresas jornalísticas, em especial a Folha de S.Paulo, Extra e A Tarde. A ANJ classifica de ‘escalada obscurantista’ as ações contra os veículos e profissionais, movidas em pontos distantes do País, dificultando a defesa.

‘As ações judiciais alegam pretensos danos morais sofridos pelos fiéis da Universal, mas não escondem o claro propósito de intimidar o livre exercício do jornalismo’, diz a nota (ver íntegra nesta página), assinada pelo vice- presidente da entidade, Júlio César Mesquita, responsável pelo Comitê de Liberdade de Expressão. ‘Os autores das ações e seus mentores, a rigor, pretendem induzir jornais e jornalistas a silenciarem informações a respeito da Universal. É uma iniciativa capciosamente grosseira.’

As ações, com pedidos de indenização de R$ 1 mil a R$ 15 mil, foram protocoladas depois que a Folha publicou, em dezembro, uma reportagem da jornalista Elvira Lobato sobre o aumento do patrimônio da Iurd e de seu líder, Edir Macedo. As petições dos fiéis seguem um padrão de semelhança absoluta, como se tivessem sido redigidas pela mesma pessoa, indicando ação orquestrada.

Em dois processos contra a Folha, em municípios tão distantes quanto Jaguarão (RS) e Catolé do Rocha (PB), os fiéis Nalcimar Estevão de Araújo e Ailton Cantuário da Silva dizem ter ouvido a mesma frase - ‘Viu só, você é trouxa mesmo de dar dinheiro para essa igreja’. A alegada humilhação justificou pedidos de indenização. Os fiéis se disseram ofendidos pelo teor da reportagem, que levantou indícios sobre envio de dinheiro das contribuições dos seguidores para paraísos fiscais.

LULA

Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que não vê ameaça à liberdade de expressão no episódio. Indagado sobre o assunto, durante a visita que fez ao gasoduto Cabiúnas-Vitória, na região metropolitana de Vitória (ES), ele afirmou que a Universal busca no Judiciário, um dos ‘pilares da democracia’, uma forma de se defender por se sentir atingida.

‘Acho que a liberdade de imprensa pressupõe isso. Pressupõe a imprensa escrever o que quiser, mas pressupõe também que a pessoa que se sinta atingida vá à Justiça para provar sua inocência’, afirmou. ‘As pessoas escrevem o que querem, depois ouvem o que não querem. Esta é a liberdade de imprensa que queremos’, frisou.

Em nota de esclarecimento (veja também nesta página), a Igreja Universal informou ontem que fiéis de várias partes do País estão procurando a Iurd para ‘manifestar seu repúdio’ em relação às denúncias sobre o ‘dízimo’. ‘A Iurd já ingressou com suas ações judiciais e não tem qualquer interesse de orquestrar e incentivar processos individuais por parte de seus fiéis’, destaca o texto.

ORQUESTRAÇÃO

O advogado constitucionalista Rubens Naves tem opinião diferente. ‘A situação caracteriza uma orquestração e ação articulada, o que dá ensejo à litigância de má-fé, segundo os artigos 17 e 18 do Código de Processo Penal’, destacou. ‘Na verdade, quer a intimidação das empresas e jornalistas. O código é muito claro na caracterização da litigância, quando uma das partes altera a verdade dos fatos e busca outro objetivo além do declarado na ação’, analisa.

O jornalista Diogo Moysés, editor do Observatório do Direito à Comunicação, concorda com o parecer da ANJ e Naves . ‘Não se pode desqualificar o papel do Judiciário, que deve ser preservado, mas nesse caso nos parece claro que há uma tentativa de intimidação.’"

Nota da ANJ

"A Associação Nacional de Jornais (ANJ), na condição da mais representativa entidade dos jornais brasileiros e no cumprimento do seu histórico objetivo de defender a liberdade de expressão, o livre exercício da profissão de jornalista e o direito de o cidadão de ser informado, vê com imensa preocupação as recentes ações judiciais movidas por fiéis e pastores da Igreja Universal do Reino de Deus contra jornais do país. Até a presente data, já chegam a 56 as ações contra a Folha de S.Paulo, 35 contra A Tarde, de Salvador (BA), e 5 contra o Extra, do Rio de Janeiro (RJ). No caso da Folha, as ações estão relacionadas a reportagem sobre a evolução da Igreja Universal. Nos casos de A Tarde e O Extra, o motivo das ações foi reportagem sobre a danificação de uma imagem sacra numa igreja católica de Salvador por um fiel da Universal

As ações judiciais alegam pretensos danos morais sofridos pelas fiéis da Universal, mas não escondem o claro propósito de intimidar o livre exercício do jornalismo. São obviamente resultado de um planejamento, com argumentações, estratégias e objetivos idênticos. Mover as ações em grande número, com origem em diversos pontos do país, é uma tática que evidencia o verdadeiro intuito de causar transtornos aos jornais e jornalistas, que se vêem obrigados a comparecerem e constituírem defesa em dezenas de cidades e a multiplicarem, conseqüentemente, os custos de sua defesa. Na medida que criam essas dificuldades, os autores das ações e seus mentores, a rigor, pretendem induzir jornais e jornalistas a silenciarem informações a respeito da Universal. É uma iniciativa capciosamente grosseira e que afronta o Poder Judiciário, já que pretende usá-lo com interesses não declarados.

Felizmente, diversos juízes já tomaram decisões contrárias às ações, denunciando seus verdadeiros e condenáveis propósitos.

A ANJ renova sua solidariedade aos jornais e jornalistas alvos dessas ardilosas ações judiciais e se coloca à disposição desses e de outros veículos e profissionais que venham a sofrer igual violência. A imprensa brasileira tem uma longa e valiosa tradição na defesa dos interesses da sociedade e dos cidadãos de nosso país e não aceitará, de forma alguma, qualquer iniciativa que vise a constranger ou impedir o cumprimento desta missão.

A ANJ chama a atenção da sociedade brasileira para o caráter autoritário dessa ação orquestrada, que usa fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus contra os valores da liberdade em nosso país, se baseia na intolerância e indica a preocupante pretensão de impor um pensamento único, incompatível com a convivência democrática. É preciso impedir, desde já, o avanço dessa escalada obscurantista.

Brasília, 19 de fevereiro de 2008

Júlio César Mesquita

Vice-Presidente da ANJ

Responsável pelo Comitê de Liberdade de Expressão"


Fiéis da Universal atacam imprensa na Justiça


21/2/2008

Em uma escalada sem precedentes na história recente do País, fiéis da Igreja Universal moveram 56 ações judiciais contra o jornal Folha de S. Paulo e a jornalista Elvira Lobato. De acordo com levantamento do ABI Online, as ações foram ajuizadas em 47 cidades de 19 estados do País. Deste total, cinco foram indeferidas pelos Juizados onde foram propostas e em duas delas os juízes encarregados do caso, além de indeferir o pedido, condenaram os requerentes ao pagamento das custas judiciais (despesas processuais, além de multa), por usarem o Poder Judiciário de forma indevida.

Até esta terça-feira, 19, de acordo com o site Consultor Jurídico, 96 fiéis já haviam movido ações contra a imprensa, a maior parte delas contra a Folha de S. Paulo e a repórter Elvira Lobato, por causa da série de reportagens “Universal chega aos 30 anos como império empresarial”, assinada pela jornalista e publicada pelo diário paulista em 15 de dezembro do ano passado.

As ações movidas pelos fiéis da Universal atingem também Bruno Thys, Diretor de Redação do Extra, e Valmar Hupsel Filho, de A Tarde, bem como os jornais do Rio e de Salvador, respectivamente.

Veja a seguir a lista das cidades e os estados onde foram ajuizadas as ações dos fiéis da Igreja Universal contra a imprensa:

Ações de indenização por danos morais contra a Folha de S. Paulo e Elvira Lobato

Autor - Cidade - Estado

Cleber Andrade dos Santos – Taruacá - AC

Pastor Marcelo Ramos da Silva - Cruzeiro do Sul - AC

Maurício Muxió dos Santos – Xapuri - AC

Pastor Emerson de Souza Silva – Tefé- AM

Carlos André Pereira dos Santos - Bom Jesus da Lapa - BA

Francisco Carmo Fernandes Assunção - Canavieiras - BA

José Raimundo de Oliveira - Santa Maria da Vitória - BA

José Vieira Bispo dos Santos - Juazeiro - BA

Mário da Silva Garcia – Irecê - BA

Taciano Nogueira dos Santos - Paulo Afonso - BA

Pastor Francisco de Paula Sampaio Neto – Iguatu - CE

Pastor Renede Araújo de Paula - São Benedito - CE

Gleidson de Paiva Lima - Alegre - ES

Hotto Fernando Spagnol de Oliveira - Pedro Canário - ES

Wagner Panisset Turques - Venda Nova do Imigrante - ES

Pastor Aleksander Ferreira dos Santos - Porangatu - GO

Francisco Silva de Moura - Balsas - MA

Ricardo Wagner da Silva – Açaílândia - MA

Pastor Alexandro Barsante Rodrigues da Silva – Uberlândia - MG

Pastor Fernando Gonçalves Ribeiro - Teófilo Otoni - MG

Pastor José Edson Tércio – Itajubá - MG

Pastor Leonel Elias de Moraes - Pouso Alegre - MG

Admilson Alves Rosa - Aparecida do Taboado - MS

Carlos Alberto Lima – Bataguassu - MS

Alfredo Soares – Sinop - MT

Dio Nessu dos Reis Barbosa – Canarana - MT

Pastor Erivalton do Nascimento - Guarantã do Norte - MT

Nivaldo Souza e Souza – Juara - MT

Fonte: http://www.abi.org.br/primeirapagina.asp?id=2389


4. Editorial da Folha de São Paulo


19/02/2008 - 02h30

Folha publica editorial sobre processos de fiéis da Igreja Universal contra jornais
da Folha Online

A Folha de S.Paulo desta quarta-feira (19) publica em sua primeira página um editorial sobre os processos movidos por fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus contra os jornais "Extra", "O Globo", "A Tarde" e contra a própria Folha.

Nos processos, os fiéis se dizem ofendidos pelo teor de uma reportagem da jornalista Elvira Lobato, publicada em dezembro, que descreve as milionárias atividades do bispo Edir Macedo.

Leia abaixo a íntegra do Editorial.

*

Intimidação e má-fé

Bispos da Igreja Universal do Reino de Deus desencadeiam, contra os jornais "Extra", "O Globo", "A Tarde" e esta Folha, uma campanha movida pelo sectarismo, pela má-fé e por claro intuito de intimidação.

Em dezembro, a Folha publicou reportagem da jornalista Elvira Lobato descrevendo as milionárias atividades do bispo Edir Macedo. Logo surgiram, nos mais diversos lugares do país, ações judiciais movidas por adeptos da Igreja Universal que se diziam ofendidos pelo teor da reportagem.

Na maioria das petições à Justiça, a mesma terminologia, os mesmos argumentos e situações se repetiam numa ladainha postiça. O movimento tinha tudo de orquestrado a partir da cúpula da igreja, inspirando-se mais nos interesses econômicos do seu líder do que no direito legítimo dos fiéis a serem respeitados em suas crenças.

Magistrados notaram rapidamente o primarismo dessa milagrosa multiplicação das petições, condenando a Igreja Universal por litigância de má-fé. Prosseguem, entretanto, as investidas da organização.

Não contentes em submeter a repórter Elvira Lobato a uma impraticável seqüência de depoimentos nos mais inacessíveis recantos do país, os bispos se valeram da rede de televisão que possuem para expor a pessoa da jornalista, no afã de criar constrangimentos ao exercício de sua atividade profissional.

É ponto de honra desta Folha sempre ter repelido o preconceito religioso. A liberdade para todo tipo de crença é um patrimônio da cultura nacional e um direito consagrado na Constituição. A pretexto de exercê-lo, porém, os tartufos que comandam essa facção religiosa mal disfarçam o fundamentalismo comercial que os move. Trata-se de enriquecimento rápido e suspeito --e de impedir que a opinião pública saiba mais sobre os fatos.

Não é a liberdade para esta ou aquela fé religiosa que está sob ataque, mas a liberdade de expressão e o direito dos cidadãos à verdade.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u373674.shtml


5. Artigo de um jornalista de 76 anos

21/2/2008

Onde quer chegar o "Complexo Universal"?

Milton Coelho da Graça*

A Universal é uma complexa organização igreja-empresa-partido político, que também comanda o jornal semanal impresso de maior circulação do País (superior ao triplo da edição dominical do diário mais vendido do País).

Em nome da liberdade de crença determinada pela República, cresceu com métodos não-convencionais de conversão e marketing, chegando em poucas décadas ao terceiro lugar em número de adeptos do País (abaixo apenas da Igreja Católica e da Assembléia de Deus). Com a obrigatoriedade do pagamento do dízimo (uma característica comum das igrejas evangélicas, mas cobrada sem o mesmo rigor pelas outras), construiu rapidamente um enorme patrimônio, que lhe permitiu construção de templos em quase todos os municípios, alguns deles imponentes “catedrais”; a compra da Rede Record, com a simpatia da ditadura, na época interessada em deter a crescente participação de fortes setores católicos no movimento de resistência democrática; e, finalmente, adotou a prática de apoiar a eleição de parlamentares até conseguir criar um partido — o Partido Republicano Brasileiro (PRB) — hoje sob o comando formal do Vice-Presidente da República, mas sob o comando de fato do Senador Marcelo Crivella.

O que chamo de “métodos não-convencionais” de conversão incluiu inicialmente até atos de violência contra “terreiros” de umbanda, que exigiram pedido de garantias à Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro, prontamente asseguradas pelo então Secretário, General Nilton Cerqueira. Sabiamente, a Igreja Universal logo mudou sua tática e, em vez de condenar, passou a se utilizar de exorcização, “sessões de limpeza” etc., que se tornaram práticas diárias em suas igrejas.

Além de tudo isso, o Complexo Universal está há algum tempo procurando assumir um papel mais importante na mídia impressa e online. Comprou há alguns anos o jornal mineiro Hoje em Dia e começou a imprimir em Belo Horizonte seu jornal semanal — Folha Universal — distribuído aos fiéis e usado como material de atração de novos adeptos. São freqüentes os boatos sobre tentativas de compra de outros jornais, especialmente O Dia, dono de um parque gráfico moderníssimo, mas que enfrenta óbvios problemas.

O claramente articulado ataque na Justiça contra a Folha insinua sintomas de não se tratar apenas de reação intimidativa a reportagens críticas do jornal. Curiosamente, ele ocorre com o esforço da Record para se livrar do controle religioso. Os programas evangélicos estão sendo eliminados da grade — alguns deles até sendo contratados com outras emissoras. A Record procura obter uma posição cada vez mais forte nas áreas de noticiosos e entretenimento, buscando uma imagem “laica” e consolidação de adversária mais forte da Globo. A montagem de um poderoso esquema de mídia jornal-TV-rádio, com objetivos mais políticos do que religiosos, merece ser cogitada no mínimo como hipótese. Não se deve esquecer que a Folha Universal toma parte ativa no debate sobre a descriminalização do aborto, naturalmente, na mesma atitude política do Complexo em relação a todos os governos — desde a ditadura até Lula, passando por Sarney, Collor e Fernando Henrique: sempre a favor.

Detalhe interessantíssimo na campanha do Senador Crivella para a Prefeitura do Rio: o PRB tem como candidato a vereador um dos mais combativos líderes comunitários — William, da Rocinha — que não tinha, pelo menos até recentemente, qualquer ligação com a Igreja Universal. Um possível sinal de que a ação estritamente política também começa a ter relevo maior e independente na estratégia do Complexo.


*Milton Coelho da Graça, de 76 anos, é jornalista desde 1959. Membro do Conselho Deliberativo da ABI, foi editor-chefe do Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar e Intervalo e do portal Comunique-se, onde este artigo foi originalmente publicado.


Fonte: http://www.abi.org.br/primeirapagina.asp?id=2390