quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Estudo das religiões: Judaísmo - 3



OS ESCRITOS POÉTICOS

Entre os textos poéticos do Antigo Testamento, foram os Salmos que tiveram maior significado histórico. A maioria dos 150 salmos foi escrita na época dos reis, isto é, antes da destruição de Jerusalém em 587 a.C. Foram compostos sobretudo para os serviços do Templo e as grandes festas do Templo em Jerusalém. Mas também há exemplos de salmos que os israelitas dizem em suas orações individuais. Com base em seu conteúdo, podemos dividir os salmos em vários tipos. Os três mais importantes são os cânticos de louvor (hinos), de lamentação (orações) e de ação de graças.

O fato de cerca de metade dos salmos serem atribuídos a Davi não quer dizer que tenha sido realmente ele o autor. Vários salmos são mais recentes. A expressão "de Davi" também pode significar "pertencente a Davi" ou "para o rei Davi". Mesmo assim, é possível que alguns dos salmos mais antigos tenham sido escritos pelo próprio rei Davi.

O Livro de Jó é considerado por muitos uma "jóia da literatura mundial". Com seu suspense e sua construção quase novelesca, ele aborda o significado do sofrimento e da justiça de Deus. Jó é um homem justo e temente a Deus, que é posto à prova por Satã, com o consentimento de Deus. Ele então perde tudo o que possuía, e sua vida fica em ruínas. Em seu infortúnio, Jó clama contra Deus. Por que um homem justo como ele haveria de sofrer um destino tão terrível? Deus responde que o homem não tem o direito de ir contra a vontade de seu Criador; na verdade, não tem direito algum em relação a Deus. O livro termina com Jô aceitando seu destino e se submetendo a Deus — levando dessa maneira a que o vencedor da "aposta" seja Deus, e não Satã. No final, Jó não só consegue reaver todas as suas posses, como vê que elas foram "redobradas" por Deus.

A mais recente das escrituras do Antigo Testamento é o Livro de Daniel, escrito por volta de 165 a.C. Faz parte da literatura apocalíptica característica daquele período. A palavra apocalíptico vem de um termo grego que significa "descobrir" ou "revelar". Aqui, indica uma literatura que irá desvelar ou revelar o plano de Deus para o mundo.

O TALMUD — COMENTÁRIOS SOBRE A LEI

Além da Torá escrita, os judeus também tinham regras e mandamentos transmitidos oralmente. Segundo a tradição judaica, no monte Sinai, Moisés recebeu não apenas a "Lei escrita" de Deus, mas ainda a "Lei falada". Era proibido escrever a Lei falada, pois esta deveria ser adaptada às condições reais de vida em diferentes lugares e épocas. Porém, depois que os judeus se dispersaram pelo mundo, surgiu o medo de que a Lei falada se perdesse. Assim, decidiu-se registrá-la por escrito, o que foi feito nos séculos que se seguiram à destruição de Jerusalém. Esse material se chama Talmud, palavra hebraica que significa "estudo". O Talmud contém leis, regras, preceitos morais, comentários e opiniões legais, mas também histórias e lendas que discutem esse conteúdo. É bem sabido que o Talmud não é, em si, um livro de ensinamentos, e sim um texto usado pelos rabinos em seus ensinamentos, para orientação dos fiéis em situações concretas.

A noção de Deus

O credo judaico é: "Ouve, ó Israel: Iahweh nosso Deus é o único Iahweh!" (Deuteronômio 6,4).

Esse credo, que é repetido pelos judeus devotos todas as manhãs e todas as noites de sua vida, mostra que o judaísmo é uma religião monoteísta. Deus, o Deus único, é o criador do mundo e o senhor da história. Toda vida depende dele, e tudo o que é bom flui dele. E um Deus pessoal, que se preocupa com as coisas que criou.

Quem é Deus — ou o que é Deus — é algo que não pode ser expresso em palavras. O nome de Deus é representado pelas letras IHVH, um acrônimo que em hebraico significa "eu sou quem sou". Esse acrônimo costuma ser lido como "Jeová" ou "Javé", porém o nome real é tão sagrado que sempre se usa algum sinônimo, como "o Senhor" ou "o nome".

Jeová é o criador e sustentador do mundo. A idéia de que Deus possa não existir é alheia a um judeu. Elie Wiesel, que recebeu o prêmio Nobel da Paz, sintetizou: "Você pode ser a favor de Deus ou contra Deus, mas não pode ser sem Deus".

O fato de que Deus é um e apenas um se reflete também na existência humana. Toda a vida de um homem deve ser consagrada. Não há linha divisória que separe o sagrado do profano. Honra-se ao Senhor também na vida secular. A tarefa mais importante do homem é cumprir todos os seus deveres para com Deus e para com seus semelhantes.

A SINAGOGA E O SHABAT

Numa sinagoga não há imagens religiosas nem objetos no altar, pois as imagens são proibidas (é o segundo mandamento). O ponto focal de uma sinagoga judaica é, pois, a Arca, uma espécie de armário que fica na parede oriental, na direção de Jerusalém. Ali se guardam os rolos da Torá, escritos em pergaminho. Como sinal de respeito, esses rolos costumam ser envoltos numa capa de seda, veludo ou outro material nobre, e decorados com sinos, uma coroa e um escudo
de metal precioso. Mantém-se sempre uma lâmpada ardente diante da Arca.

No serviço da sinagoga das manhãs de sábado há um grande cerimonial em torno da leitura da Torá. Abre-se a Arca, e os rolos são levados ao redor da sinagoga até o altar. Ali se lê um trecho do texto em hebraico. A leitura da Torá também é feita às segundas e quintas-feiras; desse modo, no decurso de um ano se lê o cânone inteiro. 

Sinagoga
Além da leitura da Torá, o serviço contém orações, salmos e bênçãos, todos contidos num livro especial chamado Sidur. A oração mais importante são as Dezoito Bênçãos, que tem mais de 2 mil anos. Outro foco importante é o credo, o Shemá. 

Um cantor sacro, membro leigo da congregação, dirige o serviço. No entanto, o sermão e o ensino da Lei são responsabilidade do rabino, sempre um homem instruído e de alta escolaridade, que cada congregação nomeia separadamente.

Os serviços da sinagoga podem ser realizados diariamente, três vezes por dia, contanto que dez homens adultos estejam presentes. O status de adulto é concedido pela cerimônia do Bar Mitsvá, quando o menino faz treze anos. As mulheres não desempenham parte ativa no serviço e são segregadas nas congregações ortodoxas, ficando em geral numa galeria separada, juntamente com as crianças.

As três orações diárias também são ditas em casa. A religião ocupa lugar de relevo num lar judaico, e aí as mulheres assumem um papel ativo, particularmente no Shabat (sábado) e nas grandes festas.

O Shabat dura desde o pôr-do-sol de sexta-feira até o pôr-dosol de sábado. A base para a observância do Shabat se encontra na história da criação do mundo: no sétimo dia Deus descansou. Por isso, o homem também deve descansar nesse dia. O sábado se tornou uma festa semanal de renovação, a festa do lar e da família. A esposa, que sempre foi um fator decisivo na preservação dos costumes judaicos, abençoa e acende as velas do Shabat na mesa já posta. O marido abençoa o vinho e corta o pão especial do Shabat. A participação no jantar de Shabat é sagrada e tem grande importância para a união da família judaica.

KOSHER — REGRAS ALIMENTARES ESTRITAS

Os judeus têm regras detalhadas para a alimentação, normas cujas origens se encontram na Bíblia. Os alimentos que podem ser comidos são chamados kosher, palavra que originalmente significava "adequado" ou "permitido".

A carne só pode provir de animais que ruminam e têm o casco partido, o que exclui o porco, o camelo, a lebre, o coelho e outros. Das aves, podem-se comer as não-predatórias. Dos peixes, são kosher apenas os que possuem escamas e barbatanas; logo, estão eliminados polvos, lagostas, mariscos, caranguejos, camarões etc.

Os animais e as aves que não podem ser comidos são denominados impuros; tampouco se podem comer seus ovos ou beber seu leite.

Toda comida feita de sangue também é proibida, já que a vida está no sangue. Assim, é importante que ao abater os animais, seja extraído deles o máximo de sangue possível. O restante é retirado com água e sal. Os animais devem ser abatidos por um especialista, sob superintendência rabínica, da maneira mais rápida e indolor. É proibido comer qualquer carne que não tenha sido obtida de um animal abatido segundo as regras.

As frutas e verduras são todas kosher, bem como a maioria das bebidas alcoólicas e não alcoólicas. A exceção são as bebidas feitas de uva (vinho e conhaque), que devem vir de produtores judeus e ser cuidadosamente rotuladas.

Além dessas regras, os judeus têm um costume especial que proíbe comer derivados de leite juntamente com derivados de carne. Se o cardápio contém bife, o molho não deve conter manteiga, nem se deve terminar a refeição com café com leite, creme ou sorvete. Para garantir que esses dois tipos de alimentos não se misturem, os judeus ortodoxos usam dois conjuntos de utensílios de cozinha, um para leite e outro para carne. Eles devem ser lavados em bacias separadas e enxutos com diferentes panos e toalhas. Algumas pessoas chegam a ter duas geladeiras e duas lavadoras de louça.


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