quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Todas as culturas têm rituais para marcar o fim da vida, explica antropóloga



02/11/2010 - 14:05
Agência Brasil

Apesar da chuva, cerca de 4 mil pessoas assistiram as três missas campais rezadas na manhã deste Dia de Finados no Cemitério Campo da Esperança, em Brasília. A previsão é que 800 mil pessoas visitem os seis cemitérios do Distrito Federal até o final do dia. Para o coordenador da Comissão de Finados da Arquidiocese Metropolitana de Brasília, Haroldo Amaral, as pessoas vão às missas para relembrar os parentes e amigos falecidos. “Os católicos têm esperança de que eles serão reencontrados na vida eterna. Se não fosse essa fé, a vida não teria mais sentido para muitas pessoas."

O Dia de Finados tem origem no cristianismo e é celebrado oficialmente pela Igreja Católica desde o século 10. A data marca a assimilação da fé católica pelos brasileiros, uma das matrizes da cultura nacional. “É uma especificidade da liturgia católica, que tem a crença da ressurreição”, explica a antropóloga Lara Amorim, professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). “O hinduísmo e o budismo, por exemplo, sempre fazem culto aos antepassados, mas não há uma data específica como Finados para isso”, lembra.

Segundo ela, todas as religiões têm ritos fúnebres para o fim da vida. “Não é necessariamente um culto, mas um ritual que dá significado a alguma coisa diferente do cotidiano. A morte é um momento de quebra e os ritos dão significado a isso." A visão de ruptura varia com a “cosmologia” de cada cultura, diz ao se referir às diferentes percepções que fundamentam as explicações sobre a vida. “Essas ideias de purgatório e paraíso, por exemplo, não existem para a umbanda e o candomblé."

Lara Amorim ainda assinala as diferenças entre o catolicismo e a cultura indígena. “Para os índios, quem morre não vai para o céu. As sociedades tribais acreditam que o espírito continua existindo, e está na natureza”, lembra a antropóloga. Segundo ela, as pessoas que morreram são vistas nos sonhos pelos indígenas e, como não existe naquelas culturas a separação entre consciente e inconsciente, há um sentimento da permanência dos espíritos entre eles.

A antropóloga aponta que entre os fiéis das religiões cristãs são observadas variações de comportamento. “Há diferenças na interpretação da palavra sagrada”, diz ao comentar as cenas de filmes norte-americanos em que personagens, supostamente protestantes, reúnem-se como se estivessem em festa. As diferenças podem ser vistas dentro do próprio catolicismo. “No México, por causa do sincretismo [mistura] da religião católica com as religiões pré-colombianas, a passagem de Finados é celebrada por mais tempo."


Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/noticia.asp?codigo=304363&modulo=964

Nenhum comentário:

Postar um comentário